28 fevereiro 2007

[CINE] Ô, seu caceta...

Se você ainda não viu Borat, provavelmente já leu ou ouviu sobre essa "excelente comédia", ou esse "filme fenomenal", ou sobre a "genialidade do comediante Sacha Baron Cohen" ao viver um repórter fictício do Cazaquistão que expõe os preconceitos dos EUA em um pseudo-documentário com pessoas reais.

Bem... Sinceramente não sei o que é mais caído: esse oba-oba todo em cima do filme ou o filme em si. Borat: O segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América tem até seus bons momentos, mas com certeza você já viu tudo isso em algum lugar. E melhor. Os Simpsons já entregavam os podres da sociedade norte-americana não é dessa década. Programas de TV, como o Saturday Night Live, já faziam um humor escrachado e ácido em torno da política e costumes do tio Sam.

Nós mesmos já estamos mais que acostumados com essa linguagem que mistura jornalismo com humor. Já viu Casseta & Planeta? Borat é isso, só que no cinema e sem nada novo, genial, fenomenal ou excelente. É fácil constranger alguém na frente das câmeras dizendo o que ela não esperava ouvir ou fazendo uma pergunta que ela nunca pensou em responder. E é só isso que Sacha faz em seu filme. Um filme que supostamente deveria desbancar os norte-americanos, mas acaba deixando mal mesmo na fita o próprio Cazaquistão, como um país extremamente idiotizado e subdesenvolvido.

Com um senso de humor típico de um pré-adolescente, escatológico e quase sem sentido, fica difícil imaginar que os momentos mais politizados (e os únicos que realmente valem a pena ver) tenham sido propositais. Dá até pra rir, mas você consegue rir muito mais de graça, em casa, ligando a TV da sala.

21 fevereiro 2007

[CINE] Vida longa À Rainha

Sempre achei meio piegas estes filmes que falam sobre valores-de-uma-sociedade-e-seus-contrastes-com-os-valores-de-uma-pessoa-e-por-aí-vai. Mas felizmente o diretor Stephen Frears, com seu fantástico A Rainha, conseguiu mudar radicalmente meu conceito sobre o assunto.

Tudo se passa no intervalo de uma semana, quando a família real inglesa viveu num mundo de cabeça pra baixo. Tudo começa com Tony Blair (Michael Sheen, em sua segunda atuação como Blair), o candidato pra frentex do Partido Trabalhista, se elegendo o Primeiro-Ministro depois de 18 anos de conservadorismo no poder. Naquela mesma noite a ex-princesa Diana (um ícone pop moderno em meio ao tradicionalismo monárquico) morre em um acidente de carro em Paris. Dois fatos isolados que quase causaram uma revolução.

De um lado a Rainha Elizabeth II, segurando com mão de ferro o que resta da real tradição familiar. Um luto extremamente reservado por uma Diana Spencer que felizmente não fazia mais parte da família. De outro lado Tony Blair, com seu olho político na devoção extrema que o povo tinha pela ex-princesa. Uma guerra em que saem do ataque os cavaleiros com espadas e entram as emissoras de TV, a internet e os tablóides. Os únicos elementos do passado aqui são o castelo e sua rainha lá dentro.

Com atitudes contrárias às que o povo e a mídia exigem de uma rainha, Elizabeth II se torna uma bruxa má, a imagem oposta da "princesa do Povo", uma cinderela real que nasceu da plebe, benfeitora dos pobres e necessitados.

Nada é tão simples quanto parece e qualquer atitude nessa guerra pode ter conseqüências catastróficas. Blair sai em defesa de uma instituição praticamente oposta à sua atitude neo-liberalista e a bruxa má, em uma atuação extraordinária de Helen Mirren como Elizabeth II, mostra que é preciso muito mais que uma coroa pra ser uma rainha de verdade.

14 fevereiro 2007

[CINE] Excelente | Excelente

Já tinha gostado de O homem duplo (A Scanner Darkly) antes mesmo de ver o filme. Adaptado do livro escrito por Philip K. Dick (também criador obras que deram origem a filmes como Blade Runner, O pagamento e Minority report) e dirigido por Richard Linklater, o filme dificilmente seria ruim. E pra minha felicidade, eu estava certo: O Homem Duplo arrebenta.

Linklater é um camaleão. Dirigiu tanto Escola do rock como também é o responsável pelos (pra alguns, insuportáveis, pra outros, excelentes) Antes do pôr-do-sol e Depois do amanhecer. Ele foi o cara que usou brilhantemente a técnica de rotoscopia (animação feita em cima da filmagem de atores reais) em seu aclamado Waking Life. Na época, a técnica coube como uma luva para amplificar as discussões existencialistas do filme e, agora, com O homem duplo, ele repete a façanha pra entrar de cabeça no tom dark-futurista-viajante do mundo das drogas sintéticas.

O filme se passa sete anos no futuro, quando o policial Fred (Keanu Reeves) recebe a missão de investigar Bob e seu grupo de amigos viciados na nova droga do momento: a Substância D. Só tem um detalhe: Bob e Fred são a mesma pessoa. A polícia não tem idéia de que seu policial é o tal suspeito pois todos são obrigados a usar um uniforme-camaleão que esconde qualquer traço da fisionomia real de quem o veste. O problema é que Bob/Fred é também viciado na tal droga e um de seus efeitos colaterais é dividir os dois polos do cérebro. Isso faz com que sua personalidade (e a de seus amigos) também comece a se partir em duas. Com o tempo o nível de paranóia de todos chega ao extremo, rendendo os melhores diálogos doidões que você pode ver no cinema. E o melhor: com conteúdo.

Aliás, diálogo é o forte de Linklater. Unindo isso à técnica da rotoscopia, ele pôde levar O homem duplo ao limite. Apesar de muitos dos diálogos serem inspirados nas experiências reais dos amigos do diretor com entorpecentes, o filme não cai no discurso piegas de "não-use-drogas-porque-isso-mata". O homem duplo pode ser visualmente lisérgico mas é duplamente pé no chão. Mais que qualquer campanha antidrogas.

07 fevereiro 2007

[BLAH] É pique, é pique, é pique!

Parece que foi ontem... OK, na verdade parece que foi há muito mais de um ano e só se passaram 365 dias desde que o Com Pipoca surgiu por aqui.

Tudo começou (e continua exatamente igual) como uma brincadeira, com posts escritos para aqueles amigos (conhecidos ou não) que sempre aparecem pra ler e deixar um comentário. Sem contar aqueles que são praticamente forçados a aparecer pelos meus e-mails insistentes e recados no messenger avisando sobre os novos posts, hehe...

A verdade é que, como não tenho muito lá o que dizer, resolvi fazer uma espécie de retrospectiva. Se você estiver com saco (de pipoca também pode ser) e um tempão de sobra, relaxe na frente do computador e aproveite um pouco do que rolou por aqui desde a estréia:

[Brokeback mountain] [Boa noite e boa sorte] [Garotas do ABC] [Wolf Creek] [Johnny & June] [Tudo por dinheiro] [Vingança nos Stones] [Match point] [Capote] [Oscar 2006] [A pantera cor-de-rosa] [Firewall] [A home at the end of the world] [Caiu do céu] [A invasão das vendedoras de ingresso no cinema] [Cocoon - O retorno] [O plano perfeito] [Trilogia de Lucas Belvaux] [A lula e a baleia] [Missão impossível III] [Desvendando Lost 1] [Três enterros] [Uma vida iluminada] [Pergunte ao pó] [O som do trovão] [Isolation] [O corte] [Factotum] [Separados pelo casamento] [Cão de briga] [Eu, você e todos nós] [Quem somos nós?] [Superman - O retorno] [Napoleon Dynamite] [Transamérica] [Piratas do caribe: O baú da morte] [Desvendando Lost 2] [Clerks 2 e as garotas do You Tube] [Silent Hill] [Obrigado por fumar] [Querida Wendy] [800 balas] [A dama na água] [Fora de rumo] [Abismo do medo] [Desvendando Lost 3] [Festival do Rio 2006] [O diabo veste Prada] [Menina má] [O sacrifício] [Podcast Com Pipoca] [Pequena Miss Sunshine] [Dália Negra] [A última noite] [Os infiltrados] [Volver] [O grande truque] [A fonte da vida] [O desabafo das palmas] [Filhos da esperança] [O ilusionista] [007 - Cassino Royale] [Por água abaixo] [O amor não tira férias] [Garota da vitrine] [Os sem-floresta] [Diamante de sangue] [Mais estranho que a ficção] [Babel] [Déjà vu] [Perfume] [Apocalypto]

Ufa. Mas pra doze meses, isso tá longe de ser um trabalho de Hércules. Cabe muito mais pipoca nesse panelão todo aí. E olha que filme bom (e alguns que não precisavam ter nascido) foi o que não faltou desde a première deste blog

Muita coisa ficou de fora. Preguiça, falta de tempo, desleixo. E como toda virada de ano, seja lá em que época for, sempre vem aquela vontade de que, no ano seguinte, tudo seja melhor.

Bom, é esperar pra ver. 07 de fevereiro de 2008 logo, logo tá aí pra gente tirar a prova. Mas enquanto os 2 anos de Com Pipoca não chegam, quem me acompanha pra um chope?

02 fevereiro 2007

[CINE] Prenda-me se for capaz

Mel Gibson precisa levar uma coça por gerar tanta expectativa. Depois de mostrar com quantos baldes de sangue se faz uma Paixão de Cristo, Mel virou sua câmera nervosa para a América Central pré-colombiana e supostamente mostrar o fim de uma civilização.

Provavelmente o que mais chamou a atenção aqui (além das entrevistas polêmicas com o diretor) foi o fato de que os personagens de Apocalypto conversam 100% do filme em uma língua morta. Mas faltou Mel avisar que seu Apocalypto está muito mais pra um filme de perseguição do que pra uma história sobre a decadência de um povo (como o próprio nome nos leva a crer).

O estudo de um dialeto Maia e a reconstituição detalhada de uma época que faz até a mais chata das aulas de história ficar interessante bem que mereciam um roteiro mais bacana do que um simples pega-pega de mocinho e bandido. Como correria, o filme é sensacional, mas pára aí.

As duas únicas referências à tal queda dessa civilização chegam a ser tão constrangedoras quanto botar Mel Gibson pra rezar numa sinagoga. Olha só a seguinte frase que abre a película: "Uma grande civilização não se conquista por fora sem que antes se destrua por dentro". A citação de Will Durant, assim, no começo, logo é esquecida com o corre-corre sangrento. Mas tudo o que se vê no filme, por mais erros históricos que se possa ter, são os costumes de um povo. Não sua degradação moral.

Aliás, quem pode definir o certo e o errado nas atitudes de uma civilização a qual nunca pertenceu? Mel acha que pode. Tanto que pinta a chegada das caravelas de Hernández de Córdoba com um certo tom de alívio. Quem não dormiu nessa aula de história sabe que não foram bem os sacrifícios aos Deuses ou a correria frenética pela floresta que significaram o fim de uma grande civilização...