27 outubro 2006

[CINE] Um noir de 2006 que poderia ser de 1946

Assassinatos, corrupção, sexo, mulheres fatais, drogas, traições. É com essa mistura perigosamenste sexy e sombria, com roteiros baseados nos romances policiais americanos e referências estéticas do expressionismo alemão (alto contraste, preto-e-branco) que nasceu o grande gênero das décadas de 40 e 50: o film noir.

E foi inspirado nesse estilo que definiu uma época que o diretor Brian DePalma retornou às telonas com seu Dália Negra. O filme é uma adaptação do romance de James Ellroy sobre o assassinato real de Betty Short, que foi conhecido como o caso da Dália Negra (apelido de Betty). O curioso é que o próprio escritor tem uma ligação com o caso. Sua mãe também foi assassinada quase dois anos depois do primeiro crime.

No filme de DePalma, o policial Bucky Bleichaert (Josh Harnett) narra a história e conta como se tornou melhor amigo de seu colega Lee Blanchard (Aaron Eckhart) e Kay (Scarlett Johansson), a esposa-loira-fatal de Lee. Os dois policiais ganham aura de heróis ao lutarem boxe nas horas vagas com os codinomes Mr. Fire e Mr. Ice. Tudo são flores até que uma mulher é encontrada morta à beira de uma estrada, com a boca rasgada de orelha a orelha. Lee e Bucky são encarregados do caso. Nesse ponto Brian DePalma leva o espectador aos cantos mais escuros do submundo e apresenta a rica e devassa Madeleine Linscott (Hilary Swank). O personagem seria perfeito não fosse a surpreendente má atuação da oscarizada Hilary. Num ringue entre mulheres fatais, Scarlett ganharia no primeiro round.

Apesar da escorregada de escalação do elenco, o cuidado estético de Dália Negra é impecável. Está tudo ali: o clima, os contrastes, a sensação de perigo em cada mudança de cena. É praticamente um filme feito nos anos 40 à perfeição. E é aí que está o seu maior defeito: é praticamente um filme feito nos anos 40. O que chocava, o que surpreendia, o que emocionava naquela época já se perdeu há décadas.

Ao ver Dália Negra, não restam dúvidas quanto à genialidade da direção de Brian DePalma e não sobram parabéns à reconstituição perfeita de um gênero. Mas é tudo estético, plástico. Nossa mentalidade mudou. Nossas referências mudaram. Dália Negra pode encantar os olhos, mas não emociona.


Pro bate-papo no bar depois do cinema:

O termo film noir (do francês, filme preto) foi atribuído pela primeira vez a um filme pelo crítico francês Nino Frank em 1946. O termo era desconhecido dos diretores e atores enquanto eles criavam os noirs clássicos. Na verdade, eles nem tinham consciência de estarem criando um tipo distinto de filme. Noir só virou gênero muito depois, quando passou a ser usado por historiadores do cinema e críticos de cinema.

4 comentários:

Anônimo disse...

pelo que diz, o filme parece bobo e parece que não bota ninguém pra pensar, não põe nada em movimento... diferente da pequena miss... enfim, tô mais para o filme anterior e menos pra estática e pra estética... beijo me liga ;)

Bailandesa disse...

Poxa, taí..... estava que não me aguentava pra ver esse filme. Agora, acho que dá pra aguentar bem mais..

Tô louca pra ver o little miss sunshine. Como já estou melhor, acho que já dá pra ir nesse fim de semana..
Bjs

contonocanto disse...

"É praticamente um filme feito nos anos 40 à perfeição. E é aí que está o seu maior defeito: é praticamente um filme feito nos anos 40."

Já vi isso em algum lugar...

:-)

Anônimo disse...

É sempre uma delícia ser você! Mais uma vez fiquei morrendo de vontade de correr para o cinema