29 agosto 2006

[CINE] O prazer é todo nosso

Prepare-se para o filme mais cínico, mais ácido e, provavelmente, um dos mais inteligentes que você pode ver em cartaz hoje.

Obrigado Por Fumar (Thank you for smoking) mostra como uma boa crítica social pode ser também engraçada. É como se Michael Moore (Farenheit 11/09 e Tiros em Columbine) aprendesse a contar piadas sem deixar de lado o ataque às grandes corporações e ao governo dos EUA.

Quem conseguiu realizar essa façanha foi o roteirista e diretor estreante Jason Reitman (O cara é filho de Ivan Reitman, diretor de Os Caça Fantasmas).

Obrigado Por Fumar conta a história de Nick Naylor (Aaron Eckart), um lobista da indústria do tabaco que esbanja poder de persuasão. Seus melhores amigos são outros dois lobistas. Bobby Jay Bliss, que defende a indústria de armas de fogo e Polly Bailey, da indústria de bebidas. Juntos, eles são "Os Mercadores da Morte". Ah, detalhe... estes são os mocinhos da história.

E pra dar uma pitada forte de humor politicamente incorreto, Nick passa mais da metade do filme ao lado de seu filho de 12 anos, que aprende a amar a profissão do pai. Quando o filme tem tudo pra virar um melodrama-água-com-açucar ou está prontinho pra dar uma lição de moral chata, Obrigado Por Fumar mostra escancaradamente que existe muito mais entre o céu do politicamente correto e o inferno da verdade nua e crua. Pra você ter uma idéia de como o filme é bom, até a atuação da intragável Katie Holmes se transforma num raro prazer (com o perdão do trocadilho).

Vou parar por aqui porque qualquer detalhe além disso pode estragar sua experiência no cinema. Obrigado por Fumar é um filme que faz rir, mas também faz pensar. E isso sim é extremamente raro hoje em dia.

24 agosto 2006

[CINE] Um terror de Silent Hill

Quando será que alguém com bom senso vai perceber que não basta botar um jogo de videogame na telona pra aquilo se chamar filme? Bem que podiam aprender com a galera que adapta quadrinhos. No caso de adaptação de games, e Terror em Silent Hill é mais um ótimo exemplo da incompetência em fazer um game bacana virar um filme idem.

Eles capricham bonito na estética, na fotografia, nas atrizes peitudas e saradas e nos monstros recém-chegados do inferno, mas a impressão que dá é que foram filmando, filmando, e depois juntaram tudo numa seqüência não necessariamente lógica, pra parecer que existe um fiapo de história por trás daquele show de efeitos especiais.

E olha que os primeiros minutos do filme me enganaram direitinho. Tirando as óbvias forçadas de barra e o excesso de clichês (quem ainda engole a lorota da tal menina de cabelos pretos jogados na cara e com voz tenebrosa?), o visual copiado à perfeição do jogo da Konami é realmente de dar medo. Mas a partir de um momento, a impressão que você tem é de estar na sala da sua casa vendo algum amigo jogar (e mal) o seu Playstation.

O que mais da medo em Silent Hill é saber que quem assina o roteiro (se é que podemos chamá-lo assim) é o roteirista Roger Avary, que escreveu nada menos que o inspiradíssimo Regras da Atração e co-roteirizou Pulp Fiction, ao lado de Quentin Tarantino (precisa mais?). Só me resta lamentar e dizer que, com essa fraca adaptação, ele perdeu uma boa oportunidade de ficar em silêncio.

23 agosto 2006

[NEWS] Taí um diretor que sabe vender seu peixe

Tudo começou em 94, quando o então diretor estreante Kevin Smith deu ao mundo O Balconista (Clerks). Rodado na loja de conveniência onde Kevin trabalhava, com um custo de 27 mil dólares (pagos com cartões de crédito, uns trocados guardados e a venda de uma coleção de revistas em quadrinhos), o filme conquistou uma horda de fãs e ganhou vários prêmios pelo mundo. Kevin recuperou a grana investida, a coleção de quadrinhos e ganhou um enorme prestígio pra rodar seus futuros projetos. E eis que agora, ganhamos de presente O Balconista 2.

Um ponto forte em todos os filmes de Kevin Smith é a enorme reverência à cultura pop (Star Wars, por exemplo, é hilariamente citado em todos eles). Mas com O Balconista 2, isso foi levado ao extremo.

Bom, antes de entrar nesse assunto, vou pular pra uma outra história, passada na vida real: Tasha é uma adolescente de Israel que resolveu fazer um video caseiro com sua irmã gêmea. Da maneira mais despretendiosa do universo as duas dublaram a canção Hey, do Pixies, e depois botaram no You Tube. Bem... o videozinho ficou tão bacana que virou uma febre na internet. Pra você ter uma idéia, ele já foi sido visto por mais ou menos 8.500.000 pessoas ao redor do mundo. Pra conferir é só dar play aí embaixo (e cantar junto):



Pronto, voltando ao Kevin Smith e à maneira como ele vem divulgando O Balconista 2, o cara teve uma sacada de mestre. Botar simplesmente um trailer do filme no You Tube não seria lá muito inteligente. Trailer se vê em qualquer lugar e os downloads não chegariam aos pés das nossas amigas indiandas indie. Foi aí que ele resolveu botar um video parodiando as garotas (que viraram ícone deste universo You-Tubesco). Bom, o resultado é melhor ver (e morrer de rir) clicando no play:



Opa! Não acabou aí. O gordinho nerd ainda teve a brilhante idéia de usar o site de vídeos pra fazer uma promoção. Ele disponibilizou a música tema do filme pra download pra que o público criasse seu próprio video caseiro na web. O melhor entra no DVD de O Balconista 2.

E se você pensa que parou aí, ledo engano. Kevin Smith ainda gravou um áudio comentando o filme (destes que a gente encontra em DVDs), pra galera baixar no iTunes e assistir ao filme no cinema ouvindo o comentário do diretor em seus iPods. A idéa só não foi bem vista pelos donos dos cinemas, com medo de que as pessoas rissem das cenas comentadas enquanto o resto da platéia ficasse boiando, apenas vendo o filme.

Como vocês podem ver, as idéias são completamente nerd. Mas convenhamos, Kevin Smith é um nerd muito legal.

18 agosto 2006

[TV] Enquanto Lost não vem...

A caçada já começou! Se você também está órfão de Lost, como eu, esperando o primeiro episódio da terceira temporada cair na rede pra baixar, prepare-se: tem muito com o que se distrair até lá. Se você ainda está seguindo a série no AXN, pode ficar tranqüilo, nada aqui vai atrapalhar suas surpresas. Se só viu a primeira temporada na Globo ou em DVD, PARE AGORA! Agora, se você não faz idéia do que tô falando, bem...

O fato é que enquanto a série não volta, você pode se divertir com Lost Experience. Uma espécie de jogo-caça-tesouro que está rolando em alguns países do mundo. Mas como a internet tá em todos os lugares, dá pra brincar por aqui também.

A última vez que escrevi aqui sobre Lost Experience, falei sobre o site da Hanso Foundation, muita água já rolou. Recentemente a Hanso deixou um recado no site avisando que haviam sido invadidos por hackers (nossa conhecida Persephone, claro) e, por isso, desativaram temporariamente as páginas.

Eis que Persephone não parou aí. Não precisei pesquisar muito na web pra descobrir que Persephone é o codinome de Rachel Blake. E bastaram alguns minutos no Google pra achar o blog de viagens da Rachel. Acontece que, no último post, a garota publicou um símbolo estranho com um código alfanumérico embaixo. Foi só clicar ali pra que um mundo de mistério se abrisse bem diante dos meus olhos.

Você cai no site Hanso Exposed, criado por Rachel. É aí que você fica sabendo que ela tem em mãos um video que vai desmascarar de vez a Hanso Foundation, provando seus podres. Mas claro, a garota não pode publicá-lo assim, na íntegra. Por isso ela quebrou o video em 70 fragmentos que estão espalhados pela web. Pra encontrar cada fragmento, você precisa digitar os tais códigos na página.

"E em que raios de lugar eu acho os códigos?" - você se pergunta. Senta que agora começa a parte legal. Simplesmente em QUALQUER LUGAR. Estes símbolos estão espalhados pelo mundo. Tem encartado em revistas, em placas de rua, silkado em camisetas, escondido em sites pela web... Tem símbolo que já foi encontrado até em porta de banheiro público na Austrália e em reflexo de lata de Sprite num comercial de TV! Nem precisa dizer que isso virou uma febre na internet com pessoas dos quatro cantos do mundo divulgando como troféus os símbolos encontrados. E pode ter certeza de que, num post não muito distante, vou publicar todos eles aqui.

Desse jeito a espera por Lost não vai doer nadinha. Já consegui achar 41 dos 70 fragmentos. E agora há pouco, um camarada-também-fanático-por-Lost indicou um vídeo com 39 dos fragmentos montados numa ordem que me pareceu bem OK.



Claro, tá faltando praticamente metade, mas já dá pra se ter um gostinho de mistério quase revelado.

11 agosto 2006

[DVD] É de prender na cadeira

Ainda dá tempo! A segunda parte da primeira temporada de Prison Break estréia dia 21 de agosto na Fox. É só Jack Bauer acabar de salvar o mundo mais uma vez que Scofield entra em cena. Tá perdido feito um condenado no corredor da morte? Eu explico.

Prison Break é mais uma série-hit da Fox norte-americana. Começou só com 10 episódios (o piloto e mais 9), que a Fox tupiniquim já exibiu. O sucesso foi tanto lá fora, que resolveram completar a temporada com os 12 episódios restantes. É justamente esse restinho que faltava passar aqui no Brasil.

Então, se você ainda não viu a primeira parte na TV e não tem paciência pra reprises picotadas por comerciais infinitos de Table Mate, AB King Pro, Flat Hose e Slim Control, tá na hora de dar uma escapadinha até a locadora (ou site de download) mais próxima! Sim, lançaram um box no Brasil só com os tais 10 primeiros episódios!

O personagem principal é Michael Scofield (Wentworth Miller), um cara desesperado que precisa salvar seu irmão, Lincoln Burrows (Dominic Purcell), que foi condenado por um assassinato que não cometeu. Lincoln está há poucos meses de ser executado na cadeira elétrica. Michael então arma um plano megacomplexo. Ele tatua a planta da cadeia e todos os detalhes do plano em seu corpo e assalta um banco para que seja preso na mesma penitenciária do irmão.

O bacana é que a série não se prende unicamente à fuga de uma penitenciária de segurança máxima. Todos os personagens estão presos e condenados, nem que seja metaforicamente. Isso porquea série é um caldeirão de fórmulas de sucesso. Tem lá um casal de advogados que corre perigo ao tentar provar a inocência de Lincoln. Tem os homens-poderosos-do-mal que matam todo mundo que chegue perto de desvendar o grande mistério por trás da trama. Tem o diretor da prisão de segurança máxima que, contrariando todos os clichês, é gente boa. E não me peçam pra dizer quem é o vilão principal. Quando você descobrir, lá pelo episódio 8, com certeza vai gritar algo parecido com "?!#&*#!!$@!", como eu fiz.

Prison Break é deliciosamente desesperador e já virou uma das minhas muitas séries preferidas. Se você está na pilha de ficar com os olhos presos na TV, taí uma boa dica.

09 agosto 2006

[CINE] Se o 1 não era bom, o 2 já é demais

Podem falar o que for. Que a ação é espetacular, que os efeitos especiais são pra lá de primeira, que Johnny Depp dá um show interpretando Jack Sparrow, que este é o retorno dos filmes de pirata. Podem falar tudo isso. E tudo isso é a mais pura verdade. Mas mesmo assim Piratas do Caribe: O baú da morte está longe de ser o melhor filme pipoca que você já viu.

A impressão que se tem é a de que, ao filmarem duas seqüências ao mesmo tempo (sim, filmaram o 2 e o 3 juntos, aguarde), resolveram gastar nos efeitos especiais e na criação de monstros marinhos e seres fantásticos, todas aqueles milhões economizados. Dou o braço a torcer de que fizeram isso extremamente bem. Se você quiser ver uma lula gigante engolir navios váaaarias vezes, como se fosse algo real, não perca esse filme. Mas não espere muito além disso. Depois do primeiro impacto, a ação toda cansa. São muitos momentos de clímax pra um filme só. Depois de duas horas e meia no cinema, você só quer ver logo o final daquela balela toda. E o final não vem. Ou melhor, vem. Só em julho de 2007.

Pra um Senhor dos Anéis isso funciona. A trilogia tem um roteiro amarrado. É uma só história que precisa das outras partes (e dos efeitos especiais) pra ser contada. O que acontece em Piratas do Caribe é o contrário. Tem-se um grande portfólio de cenas de ação mirabolantes e de cair o queixo. E dá-se um jeito de enfiar uma história pra permear esse circo de computação gráfica todo. O resultado é a certeza de que um bom filme de piratas precisa de um final. A mitologia, apesar de boa, não é tão forte assim pra que as pessoas aguardem meses por um desfecho.

Olha só isso: O filme começa quando impedem o casamento de Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley, com uma interpretação de dar dó). Numa das desculpas mais esfarrapadas da história do cinema, os dois correm os sete mares atrás de Jack Sparrow. Só que o pirata só pensa em encontrar um tal baú da morte que guarda o coração (literalmente) do homem-monstro-marinho Davy Jones (Bill Night), que vaga pelos oceanos desde o dia em que trancou seu coração (é isso mesmo) neste baú. Tudo culpa de um amor mal resolvido (ninguém merece).

Bem... O filme acaba e o que sobra é a sensação de que um pirata roubou de você um tempo precioso e o dinheiro da entrada do cinema.

03 agosto 2006

[CINE] Mais um pra viagem

Se existe um estilo de filme que não muda nada com o tempo, este é o road movie norte-americano (e na carona, os road movies argentinos, brasileiros, croatas, finlandeses...). Estes filmes de estrada seguem sempre a mesma trilha: dois ou mais personagens têm algum conflito interno e entre si. Estas divergências vão se resolvendo à medida em que enfrentam juntos as dificuldades que aparecem pelo caminho. Reconhece a trama? É a eterna metáfora do caminho que cada um percorre pra se atingir um objetivo na vida.

Transamérica não é diferente. Não neste sentido. Se todo road movie tem a mesma fórmula, alguma coisa tem de existir pra separar os bons dos ruins. Este filme do roteirista e diretor estrante Duncan Tucker concorreu a dois Oscar, mas merecia mais indicações.

A motorista da vez é Bree, uma transexual bem resolvida que está na véspera de realizar a tão sonhada operação de mudança de sexo e transformar-se definitivamente na mulher que sempre desejou ser. Acontece que ela descobre ter um filho adolescente do outro lado do país, que precisa de ajuda pra sair da cadeia. Bree voa para Nova York, se apresenta como uma missionária cristã e inicia uma longa viagem de volta à Califórnia, enrolando assim uma imensa bola de mentiras pra que o filho não descubra que aquela mulher recatada na verdade é o pai que ele sonha conhecer um dia.

Só isso já faz com que todos os clichés, quando não caem por terra, tenham um colorido diferente. O sofrimento de Bree não é tratado com a piedade de costume. O filme não cai na comédia fácil nem escorre para o drama padrão. Ele não julga conceitos de família ou de sexualidade. Transamérica se equilibra entre os opostos, assim como os personagens que vão surgindo na tela.

Grande parte disso é graças a atuação fenomenal de Felicity Huffman (Desperate Housewives). Ela dá um show como Bree. De muito longe foi a melhor performance entre as indicadas ao Oscar deste ano, apesar de não ter levado a estatueta.

Transamérica é a prova de que um gênero tão batido ainda pode resultar em algo de qualidade. O trans do título vai muito além da transexualidade. Ele também significa a transformação constante que todos sofremos em cada acontecimento da vida. E esse é o conceito principal de um bom filme de estrada.