Alguém me explica que sentido tem uma personagem que é uma garota pobre, trabalhadora, negra, que sofre as agruras da vida em uma perigosa tecelagem em São Bernardo do Campo, namora um neonazista, é fã do Arnold Schawzenegger, e que também não dispensa um bom Jazz e fica irritada quando alguém discorda de seus ideais Marxistas e ainda lê Proust?
E essa é apenas UMA das completamente esquizofrênicas personagens de um filme que não é comédia, não é drama, não é denúncia social, não é um thriller policial, não é um videoclipe, não é uma novela mexicana e ainda assim tenta ser tudo isso ao mesmo tempo. Bem vindo ao universo de “Garotas do ABC” (que originalmente ia se chamar “Aurélia Scharzenêga”).
O 13o filme de Carlos Reichenbach (“Extremos do Prazer”, “Filme Demência” e “Anjos do Arrabalde) é uma grande e engraçadíssima colcha de retalhos kitch. Entre brigas de gangues, garrafas de pinga e pratos de macarrão quebrados na cabeça, diálogos completamente nonsense e atuações que beiram aquelas reconstituições de cena de canal evangélico, eis que surge a figura de Selton Mello (platéia atônita). Ele mesmo, atuando e coproduzindo essa pérola!
Antes que eu me esqueça, um desafio: Duvido que alguém consiga ver a cena do monólogo da pedreira sem tirar os olhos e sem ter um ataque de labirintite ou ânsia de vômito em menos de 3 minutos.
É por essas e outras que “Garotas do ABC” já nasceu cult. Não dá pra ignorar uma obra dessas. Esse é pra juntar os amigos, fazer muita pipoca e morrer de rir. Mas cuidados com as cenas na pedreira!
2 comentários:
O Carlão é um diretor que se importa muito pouco (leia-se quase nada) com o formato. Vai juntando uma maçaroca de informações até não caber mais. As personagens são só cabos-eleitorais do seu pensamento quase enciclopédico sobre cinema e arte em geral.
O que isso quer dizer? Que o filme é HORRÍVEL.
Complementando o Ronaldo, o filme é a cara do Carlão, e funciona maravilhosamente bem como um comentário dele, e sobre ele.
Pra quem gosta de achar subtexto em filme, de M. o Vampiro de Dusseldorf (é assim?) ao sigma dos integralistas, tem de tudo um pouco.
Infelizmente, nada disso impede que o filme seja TOSCO.
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