14 fevereiro 2007

[CINE] Excelente | Excelente

Já tinha gostado de O homem duplo (A Scanner Darkly) antes mesmo de ver o filme. Adaptado do livro escrito por Philip K. Dick (também criador obras que deram origem a filmes como Blade Runner, O pagamento e Minority report) e dirigido por Richard Linklater, o filme dificilmente seria ruim. E pra minha felicidade, eu estava certo: O Homem Duplo arrebenta.

Linklater é um camaleão. Dirigiu tanto Escola do rock como também é o responsável pelos (pra alguns, insuportáveis, pra outros, excelentes) Antes do pôr-do-sol e Depois do amanhecer. Ele foi o cara que usou brilhantemente a técnica de rotoscopia (animação feita em cima da filmagem de atores reais) em seu aclamado Waking Life. Na época, a técnica coube como uma luva para amplificar as discussões existencialistas do filme e, agora, com O homem duplo, ele repete a façanha pra entrar de cabeça no tom dark-futurista-viajante do mundo das drogas sintéticas.

O filme se passa sete anos no futuro, quando o policial Fred (Keanu Reeves) recebe a missão de investigar Bob e seu grupo de amigos viciados na nova droga do momento: a Substância D. Só tem um detalhe: Bob e Fred são a mesma pessoa. A polícia não tem idéia de que seu policial é o tal suspeito pois todos são obrigados a usar um uniforme-camaleão que esconde qualquer traço da fisionomia real de quem o veste. O problema é que Bob/Fred é também viciado na tal droga e um de seus efeitos colaterais é dividir os dois polos do cérebro. Isso faz com que sua personalidade (e a de seus amigos) também comece a se partir em duas. Com o tempo o nível de paranóia de todos chega ao extremo, rendendo os melhores diálogos doidões que você pode ver no cinema. E o melhor: com conteúdo.

Aliás, diálogo é o forte de Linklater. Unindo isso à técnica da rotoscopia, ele pôde levar O homem duplo ao limite. Apesar de muitos dos diálogos serem inspirados nas experiências reais dos amigos do diretor com entorpecentes, o filme não cai no discurso piegas de "não-use-drogas-porque-isso-mata". O homem duplo pode ser visualmente lisérgico mas é duplamente pé no chão. Mais que qualquer campanha antidrogas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara! Seu Lay out é muito massa! Apesar de eu ficar meio grog com essas linhas vermelhas (hehehe).
Também gostei muito de O Homem Duplo. Tanto que comprei o livro do Philip Dick logo depois de sair do cinema. Parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Falando em diálogos doidões, me veio à cabeça a cena da bicicleta de 18 marchas. Demais aquilo.

Debaixo do Bulcão disse...

K. Dick?
Muito bom!!!
É um dos meus autores de ficção científica preferidos. E deu origem a um dos melhores filmes de sempre (Blade Runner, claro!).

António Vitorino