31 março 2006

[BLAH] A Invasão!

Tem um povo que eu nunca entendi direito: os vendedores de ingressos de cinema. Desconfio que eles sejam de uma raça alienígena, e o portal que une o planeta deles com o nosso deve ser aquela portinha que fica nos fundos da cabine envidraçada.

É, acho que é isso! A atmosfera do planeta deles deve ser outra e por isso eles precisam ficar isolados naqueles casulos de vidro falando por um microfone.

Na verdade aquela caixinha de som deve ser um tradutor simultâneo. Eles falam de lá em cinematrês e a gente ouve de cá em português (ou qualquer coisa parecida). Só pode. Ou existe alguma outra explicação pra situações desse tipo na entrada do cinema?


- Oi, são duas meias e uma inteira pro Episódio III.
- É a próxima sessão, das dezessete e cinqüenta e cinco, senhor?
- Isso.
- Olha... o senhor só vai poder sentar da metade das fileiras pra frente.
- Por que? As poltronas são numeradas agora?
- Não... é que já foram vendidos mais da metade dos ingressos. As pessoas preferem sentar atrás, então o senhor só vai poder sentar na metade da frente...
- E se eu sentar lá atrás? O que acontece?
- Nada, senhor.


- Me vê duas meias pro “Capote” das quatro e quarenta e cinco, por favor...
- Duas meias pro “Capôuri”? Dezesseis reais, senhora...
- Isso, duas meias pro “Ca-pó-te”.
- Pois não, senhora. Dezesseis reais.
- Aqui...
- Confirmando, duas meias pro “Capôôuri”, sessão das quatro e quarenta e cinco...
- Tá, tá, brigada.


- Meia pro Brokeback Mountain.
- Ai esse filme é tudo! Chorei horrores, me emociono quando lembro... mmm... (os olhos da vendedora enchem-se de lágrimas. Ela leva a mão até o peito e um lágrima escorre por seu rosto enquanto ela entrega, cabisbaixa, a meia entrada).

24 março 2006

[BLAH] Num cinema perto de você. Podia ser longe.

Precisa existir um órgão (ou alguém com bom senso) pra controlar a edição dos trailers nacionais. É incrível como o Brasil evoluiu na arte de fazer filmes e não deu um passo na de vender o peixe. E quando digo vender mal, não é só fazer o filme parecer ruim. Mas também fazer ele parecer melhor do que é. Um crime!

A edição é uma arte. E simplesmente ignoram isso por aqui. Fazem trailer hoje como se fazia propaganda de dentifrício nos anos 60. Muitas vezes, pior.

Já reparou? Alguém sorri na tela e o locutor fala todo serelepe: “Um filme cheio de alegria”. Aí corta pra cena de alguém chorando e o locutor fala com voz de velório: “tristeeeza”, de repente corta pra um pôr-do-sol e lá vem o vozeirão de Cid Moreira recitando salmos: “você vai se emocionar...”. Não dá né?

Mulheres do Brasil, por exemplo. Juro que fico constrangido toda vez que aquele reclame passa no cinema. É um dos poucos casos em que o Brasil deveria aprender com os EUA. Ou melhor, deveria aprender com a Tailândia!

Já viu o teaser de Espíritos (Shutter)? ESTRÉIA HOJE. Ele dá um banho até nos milimetricamente calculados trailers americanos. E detalhe: Essa obra de arte tailandesa não mostra nada e não tem locução NENHUMA. Tudo na base de uma simples edição. Se o filme tiver metade do clima anunciado, já ganhou como meu terror preferido.

23 março 2006

[DVD] Um filme de valores, em todos os sentidos.

Já me cansei de ver anunciarem filmes sobre temas sérios “sob o ponto de vista de uma criança”. Balela. Na maioria das vezes isso quer dizer que o tal filme (de guerra ou qualquer outro tema “sério”) tem é como personagem principal uma criança. O tal “ponto de vista” passa longe.

Felizmente não é o que acontece com “Millions” (Caiu do Céu) de Danny Boyle. O diretor de Cova Rasa, Trainspotting e A Praia resolveu contar uma fábula sobre um garotinho com fixação por santos e figuras religiosas que encontra uma mala cheia de libras faltando sete dias para a troca definitiva da moeda pelo Euro. E agora? O que fazer com toda a fortuna antes que ela vire apenas papel? É a partir daí que a história se desenvolve de um jeito deliciosamente poético.

Você pode estar pensando: “Então o Danny Boyle mudou de rumo fazendo um filme infantil e sem aquele enfoque adulto e transgressor dos anteriores?”. A resposta é um enfático não. “Caiu do Céu” é um filme corajosamente adulto e corajosamente ingênuo e otimista também. Aliás, do jeito que o espectador deveria ser ao assisti-lo.

Com tamanho bombardeio de más notícias pelo mundo que nos deixa cada vez mais céticos e duros, a mensagem do filme pode descer com um gosto meio amargo no final. Mas basta se lembrar daquela época em que a vida era bem mais simples e mágica, livre de sarcasmos, ironias e atitudes antiéticas pra entender aonde o filme quer chegar. Do contrário você pode ser mais um adulto ranzinza torcendo o nariz no sofá. É pra ver de coração aberto e sorriso no rosto.

22 março 2006

[NEWS] U2 2, o retorno de Tina

Essa onda de remakes, revisitações e releituras de tudo o que já foi feito não tem limites. Até a clássica abertura dos filmes de James Bond não conseguiu escapar dessa praga.

É que, quem pensava que o U2 já tinha feito sua contribuição pra Coroa britânica com o tema de “007 Contra Golden Eye”, se enganou. A banda de Bono está cotada pra compor a canção-tema de “Cassino Royale”. E saca só a provável voz que interpretará a canção: Tina Turner. De novo!

Com tanta banda maneira surgindo por aí, o espião bem que merecia algo menos naftalinado.

***

Enquanto isso na fila do cinema...

“Exatamente! Eu mesmo não entendi Jurassic Park...”
(pseudo-intelectual num papo caloroso sobre a evolução de Spielberg na direção de temas mais complexos)

“Então o Enis Del Mar não era gay, né?”
(garota choramingando pra amiga ao analisar Brokeback Mountain na saída do cinema)

“Ah, então quer dizer que o Dath Vader vai ser pai daquele outro carinha que briga com ele no Guera nas Estrelas, né? Entendi...”
(jovem engravatado explicando sua brilhante conclusão ao colegas na saída de Episódio III – A Vingança dos Sith)

21 março 2006

[NEWS] Curvas, bebês e fila de cinema

Marmanjos de plantão: preparem-se! As curvas de Jessica Alba ganharam uma forte concorrente na seqüência da adaptação dos quadrinhos Sin City. Angelina Jolie vai dar as caras (e boca) em “Sin City-A Dame to kill For”, ou “A Dama Fatal” como foi publicada no Brasil. Mas o diretor Robert Rodriguez só vai começar a rodar seu filme depois que a mulher de Brad Pitt der à luz ao seu primeiro rebento não-adotado.
Sai logo, bebê-Jolie!

***

Enquanto isso na fila do cinema...

2 garotas mascando chiclete na fila do Cinemark (onde mais?):

“Sabe que eu não gostei muito do Batman Begins?”
“Jura? Eu também não... Mudaram muito o personagem... Ele parece gente...”
“Pois é... Mas vi um DVD ontem que amei! “Efeito Borboleta” acho. Só que tem que prestar muuuuita atenção! Se não você não entende nada!”
“Ah, sério? Odeio filme que tem que prestar atenção”“Dá uma preguiça né...”

16 março 2006

[DVD] Uma verdadeira viagem

O filme “A Home at the End of the World” tem 2 grandes defeitos. O primeiro é que ele ainda não saiu por aqui oficialmente (mas dá pra encontrar facilmente alguma cópia importada em uma locadora mais antenadinha). O segundo defeito eu digo mais pra frente.

Acontece que esse filme de estréia do diretor Michael Mayer, com roteiro escrito por Michael Cunningham (o mesmo do fantástico As Horas e ganhador do Pulitzer por essa obra) começa maravilhosamente. De cara você se vê mergulhado no universo carregado de beleza, amor-livre e novas experiências de Bobby Morrow (Andrew Chambers), uma criança de 9 anos em meio à onda hippie do final dos anos 60 nos EUA.

O personagem de Bobby é de uma complexidade deliciosa. É impossível não ficar fascinado ao descobrir como cada evento marcante da vida dessa criança afeta sua personalidade na adolescência (vivida por Erik Smith). É nessa fase que Sissy Spacek entra no filme como a dona-de-casa mãe de Johnathan (Harris Allan), melhor amigo de Bobby. A cena em que ela dança com os meninos e literalmente viaja ao som de Laura Nyro é pra convencer de vez que esse filme nasceu pra ser um clássico.

Mas eis que chegamos ao segundo defeito: a fase adulta de Bobby. Colin Farrell precisa comer muito arroz com feijão pra conseguir viver um personagem tão complexo. A atuação de Farrell tem a profundidade de um pires e o andamento do filme toma um gostinho amargo de já-vi-isso-antes.

Triste. Mas mesmo assim, arrisco dizer que vale muito a pena assistir. Pelo menos até a cena da dança-legalize de Sissy. Ali você pode parar o DVD e fazer como o personagem principal: imaginar um futuro em que tudo pode acontecer e escolher só as melhores partes dele.

11 março 2006

[CINE] Rir pra não chorar

Pedro chegou meio afobado com a pipoca, encobrindo os créditos iniciais por alguns segundos. Não demorou muito pra Mariana, três poltronas pra lá, falar de boca cheia “Tinha que ser doce, Pedro?”. “Ah, não enche, Mari!”.

É que eles tinham chegado meio em cima da hora da sessão das 19h55 de “Firewall” e precisavam sair a tempo de pegar a Júlia na casa do namorado antes que os pais dele voltassem de viagem. A Mari preferia ter ficado zanzando pelas lojas mas o Pedro continuava insistindo que um filminho pra passar o tempo era bem melhor que ficar vendo um monte de coisas que eles não iam comprar "anyway".

Opa! Um barulho na tela. Harrison Ford encontra o seqüestrador malvado no carro dele. O seqüestrador fala friamente: “Belos olhos tem sua filha” e em seguida mostra uma foto dela amordaçada no celular. Detalhe: ela está fazendo cara de sofrimento com os olhos cerrados! É comédia?

Nesse momento a Mari pede o refrigerante pro Pedro. “Não tinha guaraná diet então peguei normal, tá?”. “Por que não pegou Coca light então, Pedro?”. Sinceramente: isso me tocou bem mais que o seqüestro da família do Indiana.

E por aí foi. O drama do casal ao lado estava muito mais interessante e original que o roteiro desse filme dirigido por Richard Loncraine (ele não dirigiu nada importante, além de dois episódios pra TV de Band of Brothers).

Firewall” é todo desconcertante. Clichê é o que não falta. As falas são risíveis, nada é verossímil, a melhor atuação é de um cachorro (que tem um GPS na coleira!!!) e a sensação de dinheiro jogado fora na bilheteria do cinema é constante. E o pior: o filme acabou e fiquei sem saber se a Mariana e o Pedro chegaram a tempo de salvar a Júlia dos pais do namorado que poderiam chegar a qualquer momento.

07 março 2006

[CINE] Pra ver sem preconceito

Lembro de, ainda criança, ter visto um filme da Pantera Cor-de-Rosa na TV (o de 1963). Fiquei empolgadíssimo! Afinal quem, em sã insanidade infantil, não amava aquele desenho? A abertura animada era genial, o que elevava ainda mais a expectativa. E, de repente, adeus panterinha cor-de-rosa e oi Peter Sellers.

Nem mesmo a trama engraçada sobre um atrapalhado inspetor Clouseau perseguindo um ladrão de jóias chamado “O Fantasma”, que por sua vez está de olho no maior diamante do mundo chamado “Pantera Cor-de-Rosa”, foi capaz de esconder a decepção. Naquela idade não dava pra se comparar as lisérgicas aventuras do desenho animado com as trapalhadas de um bigodudo de carne e osso. A partir de então, pra mim a pantera só valia se fosse aquela do rabo comprido.

Pode ser a minha idade, pode ser o timing da comédia, mas esse remake de “A Pantera Cor-de-Rosa” retalhado de alterações no roteiro desesperado pra ter mais apelo pop (vide a participação da morena do Tchan americana: Beyoncé Knowles), me parece bem menos passível de decepção do que o original.

Essa nova versão, dirigida por Shawn Levy e com Steve Martin (excelente e inspiradíssimo no papel do Inspetor Clouseau) tem ritmo e é deliciosamente descompromissada. Tá bem longe ser uma comédia memorável como “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu” ou “Top Secret”, mas pode ver sem medo de ser feliz que a graça da pantera de rabo comprido ultrapassa a abertura animada e acompanha o filme de carne e osso até o fim.

06 março 2006

[NEWS] And the Oscar goes to...

Pára tudo! A festa mais chata do universo acaba de ganhar a estatueta da mais constrangedora também. Quem ficou acordado até 1h de hoje pôde ver a tentativa desesperada do Oscar de chegar um pouco mais perto de algo mais assistível e inteligente como o MTV Movie Awards.

Que fizeram pesquisa pra saber que a garotada curte uma apresentação que não se leva tão a sério, isso não resta dúvida. Mas de que adianta os velhinhos da academia saberem disso tudo se não têm a mínima capacidade de fazer graça pra molecada? Juro que fiquei vermelho pelo Tom Hanks. Ele é mala mas não merece.

Alguns poucos bons momentos devem-se ao apresentador Jon Stewart que não perdeu a chance de fazer piadas boas e ácidas como a em que, logo depois da apresentação hip-hop de butique do filme Hustle and Flow, soltou para a câmera: “E no ranking do Oscar: Martin Scorcese, zero, Three 6 Mafia, 1” (pois é, a errada "It's hard out here for a pimp" ganhou). Aliás, o que foram todas aquelas apresentações musicais? Quando a bicentenária Dolly Parton subiu ao palco pra gemer uma canção no velho (e bota velho) estilo country/folk achei que fosse alguma homenagem ao vivo do filme A Noiva Cadáver, de Tim Burton.

É por essas e outras que alguns atores já foram preparados para a chatice do Oscar. Louvável a idéia de Charlize Theron que usou um modelito equipado com uma prática almofadinha costurada no ombro. Glamour e funcionalidade. E quando achei que o sono ia vencer, quaaase vemos o que todo mundo espera ver num Oscar: alguém se estatelar no chão enquanto desfila pelo palco. Por pouco Jennifer Garner não nos dá esse gostinho. O equilíbrio da garota não deixou. Blah :-(

Ah, as premiações? Tudo, pra variar, bem previsível. Mas ainda bem que teve Crash desbancando Brokeback Mountain no final. Pelo menos serviu pra dar aquela acordada, o suficiente pra sair do sofá, desligar a TV e cair na cama.

01 março 2006

[CINE] Truman Show

Capote. Finalmente um filme que não dá pra torcer o nariz dizer com cara de conteúdo: “olha, eu prefiro o livro” . Não que o filme seja melhor que o livro, longe disso (até porque o filme não é baseado no livro, mas conta a história de quando foi escrito). Mas porque a vida do escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman), contada no filme, é um delicioso complemento à sua obra-prima literária: “A Sangue Frio”.

O livro, que inaugurou um novo estilo (romance de não-ficção) e elevou o nome de Capote a um outro patamar literário, conta o brutal assassinato da família Clutter no interior do Kansas, e como isso alterou a vida das pessoas daquela região.

O bom é que Capote (o filme) não perde tempo em detalhes que são importantes só no livro. Ele não tenta ser uma adaptação de uma obra que já é excelente (apesar de ser inspirado na biografia de seu autor). O filme tem vida própria, assim como a inspirada atuação de Philip Seymour Hofman, que não só encarna o escritor, como também empresta sua criatividade ao torná-lo mais real na tela. Não é à toa que esteja concorrendo a 5 Oscar, incluindo melhor filme e melhor direção para Bennet Miller.

Mas antes de ir ao cinema, quer uma dica pra deixar a experiência bem mais bacana? Leia o livro. Vai ser como aqueles jantares em que você come tudo de bom e do melhor e depois fecha com aquela sobremesa de brilhar os olhos.