24 novembro 2006

[BLAH] Só um desabafo

Bem antes que o homem se entendesse por gente, o ato de bater as palmas das mãos uma na outra já significava contentamento, alegria, satisfação, ou pedido de mais um peixe (não, peraí, esse é das focas).

O fato é que, até hoje, quando gostamos de um discurso, uma peça de teatro ou um show de música, naturalmente aplaudimos. As possibilidades do ato de bater palmas são quase infinitas, desde que, claro, exista alguém ali pra recebê-las, ou pra ficar sem graça com elas (E no caso das focas, desde que exista alguém com um balde cheinho de peixes por perto).

O aplauso é tão antigo no mundo que tem inúmeras variações dependendo de cada cultura. Na maioria dos países ocidentais, por exemplo, quanto mais barulho gerado pelo apluso, melhor foi o espetáculo. Mas tanto no caso dos homens, quanto no das alegres foquinhas, existe um fator em comum: alguém está presente pra receber as palmas.

Agora imagine essa cena: Você está com alguns amigos no sofá da sua sala vendo TV. O filme acaba. Sem olhar um pro outro, vocês começam a aplaudir. Seu colega do lado levanta-se emocionado e os outros acompanham. Quando o momento emoção acaba, você desliga a TV e sai com a galera pra tomar uma cerveja. Meio surreal, certo?

Agora me explica porque cargas d'água algumas pessoas fazem exatamente isso no cinema. A diferença é que no lugar do sofá tem uma poltrona suja de pipoca e no lugar da TV tem uma tela do tamanho de uma parede. Detalhe: Não é de uma pré-estréia com a equipe do filme presente. É um filme (seja lá coreano, hindu, indiano ou qualquer coisa do tipo) feito sabe-se lá há quanto tempo e que só chegou aqui porque tinham que cobrir um buraco na programação de um festival de cinema. Pelo menos essa mania não se espalhou muito (ainda) fora do circuitinho hype dos festivais.

Será que essa horda que acompanha os aplausos faz isso porque leu que no festival de Cannes tal diretor foi aplaudido de pé ou qualquer coisa que o valha? Porque é hype? Porque é cool quem aplaude em festival? É possível. Agora, será que se uma foca ver um balde de peixes no chão, sem ninguém pra jogá-los na sua boca, ela também ficaria batendo palminhas pro nada? Hmmm... será?

22 novembro 2006

[CINE] Uma bela fonte de discussão

Sabe estes filmes oito ou oitenta? Quando você ama de paixão ou sai amaldiçoando até a últma geração do infeliz que teve a pachorra de filmar aquilo? É mais ou menos isso que A Fonte da Vida (The Fountain), o novo filme do diretor Darren Aronofsky (Pi e Réquiem para um Sonho) pode provocar nas pessoas.

Mas que fique bem claro: Essa relação de amor e ódio são mais culpa de como o filme está sendo vendido que do filme em si. Eu explico. A história de A Fonte da Vida, escrita por Ari Handel e pelo próprio Aronofsky, é bem mais conceitual do que um espera um público que vai ao cinema ver Hugh Wolverine Jackman. Pelo trailer é muito fácil imaginar uma grande aventura de amor com um quê de fantasia e imagenas deslumbrantes. Sim, o filme tem tudo isso, mas são só maneiras de falar de um tema bem mais profundo. Se você espera uma história simples, com moral fácil de ser pescada e um final feijão com arroz, pode se decepcionar feio.

A Fonte da Vida (que estréia nesta sexta-feira nos cinemas) conta três histórias paralelas. Uma passada no presente, em que o cientista Tommy Creo (Hugh Jackman, em sua melhor atuação), busca desesperadamente pela cura do câncer para salvar sua esposa Izzi (Rachel Weisz). Ele tem esperanças porque uma amostra tirada de uma árvore da América do Sul parece ter um poder de cura impressionante. Porém a planta parece ter um ótimo poder de longevidade, mas não de cura da doença. Enquanto Tommy prefere a solidão de suas pesquisas a ficar com sua esposa doente, Izzi escreve um livro sobre um conquistador (de novo Jackman) que parte em busca da Árvore da Vida a pedido de sua rainha Isabel (também Weisz). A terceira história é passada no futuro, quando o o cientista Tommy (adivinhe, Jackman) viaja pelo espaço em busca da última chance de trazer Izzi de volta.

Pode parecer complexo (ou até bobo), mas o fato é que A Fonte da Vida traz à tona questões difíceis de se encontrar no cinema. É daqueles filmes que você precisa digerir e tirar suas próprias conclusões algum tempo depois que os créditos finais sobem. As peças do quebra-cabeças vão se encaixando aos poucos.

Há quem ache o filme pretensioso, chato e com alguns diálogos beirando o clichê. Mas pelo que ele se propõe: provocar uma reflexão séria sobre a vida, a morte e a existência, A Fonte da Vida cumpre bonito o seu papel.

17 novembro 2006

[CINE] Existe magia no cinema

Um bom truque é realizado em três atos: O primeiro é a apresentação. Nele, o mágico apresenta à platéia algo perfeitamente comum e corriqueiro. Em seguida vem o segundo ato: a virada. É a hora em que algo acontece com o tal objeto comum e ele se torna especial, invisível, diferente. Mas o que realmente surpreende é o terceiro ato, chamado aqui por "The prestige". Ele é o grand finale que faz de um simples truque um grande acontecimento. É a reviravolta que encanta a platéia e deixa até mesmo outros ilusionistas verdes de inveja e se corroendo por não saber como aquilo é possível.

Em O Grande Truque (The Prestige), o diretor Christopher Nolan mostra que estas regras também valem para um grande filme. Não é de hoje que Nolan mexe com a platéia. Desde que lançou Amnésia, em 2000 e mais recentemente com Batman Begins, ele tem mostrado um verdadeiro mestre em tornar real e verossímil a idéia mais mirabolante.

Adaptado do livro The Prestige, de Christopher Priest, O Grande Truque fala da rivalidade entre os mágicos Robert Angier (Hugh Wolverine Jackman) e Alfred Borden (Christian Batman Bale) na Londres do finalzinho do século XIX. Na busca pelo truque perfeito e inimitável, Robert conhece Nikola Tesla (David Bowie), um personagem que existiu na vida real e que, no filme, cria uma traquitana que possibilita o tal grande truque. Essa história é contada sem nenhuma linearidade. Os saltos no tempo fluem com uma naturalidade impressionante e cada cena é mais uma peça de um complexo quebra-cabeças. Como em todo bom número de magia, está tudo ali, bem diante de seus olhos, basta prestar atenção no ponto certo. Mas Nolan é fera em tirar sua atenção da solução e concentrá-la somente naquilo que lhe interessa.

Mas o que é real? O que é magia? Afinal, existe magia? Qual dos dois mágicos é o bonzinho? Existe um bom? Não queira saber antes. Só saiba que a magia existe sim. E ela é toda do diretor Christopher Nolan. Existe muito mais do que simples sacadas dentro de sua cartola.

16 novembro 2006

[CINE] Vá ver

Pedro Almodóvar é um diretor superestimado. Claro, não tem como ignorar a qualidade de tudo o que ele faz, com todas aquelas cores berrantes, plumas, dramas rasgados, sexos trocados, Caetanos cantando Cucurucucu e tudo que existe de mais Almodovariano no cinema. Mas é o oba-oba que se criou em torno disso que incomoda. Ele é sim, muito bom, mas não é 100% do tempo genial.

Mas com Volver, Almodóvar chega muito próximo da genialidade. Sua dominância sobre o universo feminino está cada vez mais apurada. A densidade e a delicadeza com que ele pinta suas mulheres é impressionante. A presença masculina no filme é quase imperceptível e serve apenas para destacar ainda mais suas heroínas Raimunda (Penélope Cruz), Sole (Lola Dueñas) e Irene (Carmen Maura).

Raimunda e Sole são irmãs. Filhas de Irene, que já morreu há muito tempo. Corre um boato de que o fantasma de Irene ainda cuida de sua irmã, Paula em um pequeno vilarejo nos arredores de Madri. Eis que Paula morre e Sole vai até o vilarejo para o enterro. Na volta, descobre que o fantasma da mãe pegou carona no porta-malas de seu carro e tem algumas pendências para resolver.

Enquanto isso Raimunda tem um outro problema: desaparecer com o corpo de seu marido assassinado pela filha na cozinha de sua casa. Precisa dizer mais alguma coisa? Nem preciso dizer que Volver fisga a platéia até a última cena.

Volver é uma volta em vários sentidos. É a volta de Almodóvar a uma narrativa mais tradicional, com começo, meio e fim. Ele deixa de lado as firulas temporais e os devaneios entre ficção e realidade para concentrar suas intenções nas entrelinhas da história. Cada plano tem um motivo. Sua perversão, muito abordada em outros filmes, dá lugar a um olhar mais tenro, porém longe de ser inocente. Depois de Volver, vai ser um pouco mais difícil me incomodar com o oba-oba em torno da genialidade de Almodóvar. Aqui ele fez por merecer.

13 novembro 2006

[NEWS] Um desenho e um herói

No que depender das próximas estréias no cinema, ninguém vai ter motivo pra reclamar que não tem nada pra fazer no fim de semana. Aliás, com as estréias que já estão rolando este mês, você já devia estar na fila pra comprar seu ingresso (Essa semana o Com Pipoca vai bombar de novidades. Aguarde!).

Como um trailer fala por mais de mil posts, assista (e babe) com estes dois videos fresquinhos que acabaram de sair da gaveta.


Alguém ainda tem dúvida que vai ser hilário?


Haja fôlego!

Agora é só torcer pra que cheguem logo os grandes dias. Tô contando os minutos aqui.

07 novembro 2006

[CINE] O retorno de um grande homem

Que Martin Scorsese é um dos grandes homens do cinema, isso não há dúvida. E que ele anda pisando feio na bola desde que elencou o sem sal Leonardo de Caprio para ser seu pupilo, todo mundo já sabe. Mas com Os Infiltrados (The Departed), Scorsese sacudiu a poeira e deu uma volta por cima como há muito não se via.

O filme mal estreou e não tenho receio de dizer que ele já está entre as maiores obras-primas do cinema, bem ao lado de Os Bons Companheiros (o auge de Scorsese). A história de Os Infiltrados é baseada no sucesso Hong Konguiano Conflitos Internos (que por lá teve duas continuações). Apesar de o mesmo argumento, Martin conseguiu a façanha de transformá-lo em um filme legitimamente seu, como só um diretor de Taxi Driver, A Última Tentação de Cristo e Cassino seria capaz de fazer.

Em Os Infiltrados, Colin Sullivan (Matt Damon) é o protegido do mafiosão irlandês Frank Costello (Jack Nicholson de novo digno de Oscar). Ele é treinado desde cedo para ser o policial perfeito que, com o tempo, conquista um lugar de prestígio na academia. O informante perfeito. Por outro lado, vemos Billy Costigan (Leonardo DiCaprio espantosamente atuando bem), o policial escolhido pelo chefe de polícia Oliver Queenan (Martin Sheen) para se infiltrar na gangue mafiosa de Costello. Agora bote aí uma psicóloga (Vera Farmiga) que se torna o grande amor dos dois infiltrados, servindo como ponto de conexão entre eles.

Pronto, o circo está armado. E Scorcese brinca com todos estes elementos perigosos de uma maneira brilhante. Até a fotografia de Michael Ballhaus, com seus altos contrastes entre claro e escuro, ajuda a contar essa história de dois mundos opostos e ao mesmo tempo tão conectados.

Os Infiltrados é o melhor Scorsese em muito tempo. Forte, seguro, inteligente. Como o filme de um grande homem deve ser.

03 novembro 2006

[CINE] Trama pra quê? É o Altman!

Muitos, muitos personagens, várias historinhas paralelas conduzidas apenas por um fino fio central, um pout-porri de astros de primeira linha (calma, não é a próxima novela do Manoel Carlos). Eis A Última Noite, mais um (e com toda cara de o último) filme do diretor Robert Altman (Assassinato em Gosford Park, Dr. T e as Mulheres).

A Última Noite mostra uma fictícia última apresentação ao vivo de um programa que é uma lenda nos EUA: A Prairie Home Companion (título original do filme). O criador e apresentador do programa (que está no ar há 31 anos), Garrison Keillor foi muito feliz ao se aliar a Robert Altman para co-roteirizar e estrelar um filme em que a história de cada personagem é mais importante que trama geral.

Nesta última noite, a câmera de Altman corre freneticamente entre bastidores e palco do programa de rádio. Repare nos camarins lotados de espelhos. É delicioso correr os olhos por todos aqueles reflexos e ângulos diferentes dos personagens, todos no mesmo quadro. E o mais impressionante é que a câmera simplesmente não aparece em nenhum, mesmo quando passa em frente a um espelho. É como se ela fosse um fantasma assistindo de perto a tudo o que acontece nessa última e melancólica apresentação do programa.

Se você espera um filme padrão, com começo, meio e fim e uma possível moral da história, esqueça. A Última Noite não é assim. São alguns recomeços, vários meios, um ou outro fim. Tudo costurado pra que você se encante com cada um dos personagens. Aqui, atores e atrizes como Meryl Streep, Virginia Madsen, Woody Harrelson, Lindsay Lohan, Kevin Kline e Tommy Lee Jones cantam e improvisam suas falas o tempo todo.

Você pode até não saber a razão de estar gostando, mas é difícil segurar alguns sorrisos, como se aquela dupla de vaqueiros contando piadas ou o dueto de irmãs cantoras (uma espécie de irmãs Galvão da gringolândia) fossem seus amigos de longa data. Pra quem já é fã de Altman (ou do Maneco), A Última Noite é um prato cheio e imperdível.