27 junho 2006

[CINE] Pergunte ao Bukowski

Os personagens das obras Charles Bukowski (1920-1994) são perdedores, sem esperança, autodestrutivos, apoiados na bebida, jogo e sexo. Mas também, o Bukowski foi considerado um dos maiores escritores da geração beat (jovens intelectuais norte-americanos que, cansados da vida suburbana na América do pós-guerra nos anos 50, resolveram fazer sua própria revolução cultural através da literatura, regados a jazz, drogas, sexo livre e pé-na-estrada).

Seu personagem mais famoso é Henry Chinaski (alter-ego do próprio Bukowski). Chinaski tem três fases de sua vida contadas na trilogia Factotum, Post Office e Women. O primeiro livro é considerado pela crítica o melhor dos três. E é também a base para o novo filme do diretor norueguês Bent Hamer.

Em Factotum (que acabou de esterar nos cinemas) Chinaski alimenta seu sonho de ser escritor enviando textos para a Black Sparrow Press (editora de Bukowski na vida real) enquanto muda de emprego e de mulher com a mesma freqüencia com que acende um cigarro.

Quem espera uma narrativa com começo, meio e fim e moral da história, esqueça Factotum. O filme é uma seqüência de acontecimentos que tinha tudo pra ser monótona. Mas a direção de Bent Hamer consegue captar aquele ritmo lento de autodestruição dos personagens sem ser chata, com cenas e diálogos tão diretos e econômicos que às vezes você esquece que os últmos 45 minutos de projeção são praticamente um looping de acontecimentos. E Matt Dillon finalmente se livra da carinha Barrados no Baile com uma interpretação de Chinaski digna de aplausos, assim como Jan (Lili Taylor) e Laura (Marisa Tomei). Difícil dizer qual das duas está melhor.

E pra quem está com a impressão de que já viu essa história antes, qualquer semelhança com o Arturo Bandini dos livros de Fante não é mera coincidência. Fante foi pupilo de Bukowski e algumas cenas de Factotum parecem ter sido literalmente copiadas pra dentro de Pergunte ao Pó. Praticamente um CtrlC-CtrlV literário. Com os dois em cartaz e tempo de sobra, pode ser uma boa comparar também na telona.

6 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, com aquela cara única de "Barrados no Baile" o Matt Dillon segura a onda? Fiquei curioso com esse diretor norueguês... mas o tempo tá curto. Não consegui nem ver meu próprio filme no Cinesul! :-)

Anônimo disse...

Samu, o Bukowiski é que se inspirou em Fante. Mas vale lembrar que em breve Ask to dust também entrará em cartaz.

Abraços

Sr Tédio disse...

Samuca,
eu vi este filme no festival, adoro o Bukowski, mas fiquei com uma má impressão. Sabe quando se confunde melancolia com chatice?

Você já assisitiu?

Anônimo disse...

Esse tal de CtrlC-CtrlV foi o que aconteceu com a crítica dofilme no site Omelete.com.br e no seu blog, com excessão de uma palavrinha ou outra. ;)

Luiz Roberto Lins Almeida disse...

Ler Bukowiski é uma atividade de desprendimento literário. Confesso que nem sabia da existência desse filme. vou atrás.
Diferente da maioria dos leitores, eu aprecio adaptações ao cinema, ainda qdo nada tenham a ver com o original.

Anônimo disse...

:/

o Bukowski era fã confesso de Fante, inclusive na primeira edição brasileira do Pergunte ao Pó, o prefácio é escrito pelo bukowski, onde ele conta como achou o livro numa biblioteca pública e ficou fascinado...