O segredo de Brokeback Mountain não está num amor velado entre dois caubóis no conservador estado de Wyoming entre as décadas de 60 e 70. O segredo está discretamente escondido no olhar de cada um dos personagens do filme. E em matéria de direção de olhares o diretor Ang Lee, de “O Tigre e o Dragão” e “Hulk”, é mestre.
Os sentimentos são velados, os desejos são contidos, tudo está enterrado o mais fundo que a sociedade americana pode desejar. E mesmo assim o complexo amor de Jack Twist (Jake Gyllenhaal), o medo e a falsa segurança de Enis Del Mar (Heath Ledger) e a inconformidade e dedicação incondicional de Alma (Michelle Williams), são mostradas com uma clareza e uma naturalidade arrebatadoras. Isso tudo apenas com o olhar. Os diálogos estão ali pra complementar apenas.
Em alguns momentos o filme bem que merecia uma edição mais enxuta. Depois de 60 minutos no cinema as panorâmicas do mundo de Marlboro começam a ficar com cara de “ok, já entendi que a montanha é linda, dá zoom que quero ver o que acontece”.
Mas o grande trunfo de “O Segredo de Brokeback Mountain” talvez esteja na convivência pacífica de toda aquela fauna heterogênea que povoa os Cinemarks da vida com óbvios e emocionados casais gays, assistindo juntos a dois caubóis trocando juras de amor. E todos se sentindo cool, afinal gay tá na moda e o filme concorre a 8 Oscar!
Mas dizer que isso é um sinal de diminuição do preconceito é, no mínimo, exagero. Do mesmo jeito que os olhos dos caubóis escondem amor e insegurança, os olhares dos espectadores, ao saírem da sala de cinema, também transbordam de sentimentos conflitantes. É nítida a luta interna de algumas pessoas entre aquilo que aprenderam a repelir e aquilo que Ang Lee mostra ser bacana aceitar.
Um comentário:
Sei que já se passou 1 ano, desde o lançamento desse filme, mas ele ainda está latente na memória.
Meu recado aqui é somente para dizer, que de tudo que li a respeito na época, a sua crítica ao filme, é uma das mais bonitas que li.
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