29 dezembro 2006

[CINE] Pode apertar a descarga

Se você amou o estilo de animação com massinha de A Fuga das Galinhas e Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais, pode até se ver atraído pelas carinhas fofas dos personagens de Por Água Abaixo (Flushed Away), feito pelos mesmos caras, só que ao invés do quadro a quadro das massinhas, temos aqui os computadores da Dreamworks trabalhando.

O problema é que o roteiro e a direção parecem ter escoado pelo ralo. Sobrou um monte de cenas de ação, perseguições chatas e umas piadas que subestimam a inteligência de uma lesma. Aliás, a única coisa que dá pra aproveitar nesse filme são umas lesmas que aparecem vez ou outra com umas sacadas ótimas.

Bem, se você ainda não desanimou de ver Por Água Abaixo e quiser saber do que se trata, lá vamos nós. O filme conta de um rato de estimação Roddy, dublado por Hugh Jackman, que fica com a casa toda pra ele quando seus donos saem pra viajar. A casa é toda dele até que chega do esgoto o rato Sid, que se livra de Roddy jogando-o numa privada e dando a descarga.

O todo playboy Roddy cai então no esgoto de Londres, onde descobre existir toda uma cidade de ratos, parecida com a Londres dos humanos. Até aí o filme tem um ótimo gancho pra ser ótimo. Uma Inglaterra de ratos. Haja material pra ser parodiado. Só que a nítida preguiça do roteirista transformou o resto numa balela de perseguição por uma jóia com direito a sapos malvados e um plano que nem uma criança de oito anos acharia inteligente ou engraçado.

Não é à toa que essa produção de 143 milhões de dólares só tenha rendido até dezembro passado meros 60 milhões nos EUA. Acredito que por aqui não vai ser muito diferente.

22 dezembro 2006

[CINE] Jack Bauer que se cuide

Ele voltou em grande estilo. Quem não dava nada pro loiro grandalhão Daniel Craig no papel do espião mais mortal do cinema, teve de dar o braço a torcer. Depois do eterno charme de Sean Connery, das trapalhadas de Roger Moore, do erro que foi Timothy Dalton e do jeito correto de Pierce Brosnan no papel de 007, não parecia faltar nada para se acrescentar ao personagem. Mas Craig conseguiu fazer com que, além disso tudo, o espião a serviço de Sua Majestade se transformasse num Macho de verdade.

O bacana disso tudo é que 007 - Cassino Royale foi a primeira aventura do espião escrita por Ian Fleming nos anos 50. Ela teve uma versão não-oficial no cinema rodada em 1967 e com direito até a Woody Allen no elenco. Mas só agora ela incorpora a lista oficial de filmes.

Apesar de ser o vigésimo primeiro longa, 007 - Cassino Royale conta, nos dias de hoje, a primeira aventura do espião com licença para matar. Afinal, quem precisa de alguma seqüência lógica nos roteiros quando se tem as cenas de ação mais eletrizantes, as mulheres mais fatais, os brinquedinhos tecnológicos mais bacanas e os vilões com defeitos físicos mais malvados do cinema?

A grande diferença deste Cassino para os vinte filmes anteriores é o enfoque em um 007 bem mais humano, que também erra e ama. Com isso, muito dos exageros cometidos nos últimos filmes, como carros invisíveis e relógios que lançam lasers capazes de perfurar paredes, felizmente nem aparecem. Graças ao diretor Martin Campbell, que deixou tudo um pouquinho mais pé no chão, acompanhando o tom do personagem. Aliás, personagem que está bem mais pra heróis atuais como Jack Bauer do que pra galãs que não se despenteiam nem pulando de um avião em chamas.

Não vou perder tempo aqui falando sobre a trama, sobre a Bond girl e sobre o novo vilão com defeito físico. Isso tudo já era pra você estar vendo nesse exato momento. Então se ainda não viu 007 - Cassino Royale e não perde uma boa pancadaria, carrões turbinados, um joguinho de Poker de fazer suar frio e um bom martini batido, nao misturado, corra! Afinal estamos falando de Bond. James Bond.

17 dezembro 2006

[CINE] A desilusão

Pra quem já viu O Grande Truque (The Prestige), de Christopher Nolan, O Ilusionista pode ser uma grande bobagem. Pra quem não viu também. Este filme dirigido pelo novato Neil Burger promete uma viagem de mistério e romance. Mas o que entrega no final das contas é um amontoado de clichês e uma trama tão dramática e profunda quanto um especial de natal da Globo.

Baseado no conto "Eisenheim, o Ilusionista", de Steven Milhauser (ganhador do Pulitzer em 1997), o filme aproveita mesmo só o nome "Eisenheim". No filme, o tal Eisenheim (Edward Norton desperdiçando talento com essa brincadeira), é um pobre garoto de Viena que se apaixona pela jovem aristocrata Sophie. Daí em diante, se você viu qualquer filme que copie Romeu e Julieta, você já sabe o resto. Privado do amor de sua namoradinha, só resta ao pequeno Eisen treinar seus truques de mágica até se tornar o maior ilusionista que a Europa já viu.

Ele cresce, faz suas mágicas bem pra cacete, volta para Viena e inicia um caso com Sophie (Jessica Biel), agora futura esposa do príncipe Leopold (Rufus Sewel). Por essas e outras, começa a ser perseguido pelo inspetor de policia Uhl (Paul Giamatti).

Talvez os únicos que mereçam palmas sejam o fotógrafo Dick Pope, o cinegrafista Ondrej Nakvasil e o compositor Philip Glass. É pelas mãos destes caras que a cidade de Praga se transformou em uma Viena totalmente verossímil. A estética dada ao filme é a mesma dos filmes do cinema mudo, com imagens lavadas e aquele fade típico da época, em que a câmera fecha a imagem em uma bola focada no ponto principal da cena. E a trilha nos leva ao início do século XIX sem parecer datada. Mas pára por aí. De resto, O Ilusionista não passa de uma grande desilusão.

10 dezembro 2006

[CINE] Uma esperança que faltava

Estamos em 2027. Toda a humanidade está infértil. Já se passaram 18 anos sem nascer uma só criança e o mundo vive um grande caos social. Fome, doenças, guerras e xenofobia estão em seu ápice. E pra piorar, o cara mais jovem do mundo acaba de morrer.

Depressão geral. Menos para Theodore Faron (Clive Owen), um ex-ativista e atual mais-um-homem-comum. Ele é apático a tudo o que acontece. O que tinha de dar errado já deu. Na verdade, quase tudo. Até que ele se vê numa corrida contra tudo e todos para proteger uma imigrante negra, e única mulher grávida do mundo.

Com essa premissa apocalíptica o diretor mexicando Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também) mostra mais uma vez a que veio com Filhos da Esperança (Children of Men). Seu domínio de câmera e seus planos-seqüência são tão bem utilizados que conseguem passar a sensação exata do quanto este futuro imaginário pode estar próximo.

Em uma das melhores seqüências já realizadas no cinema, Theo corre por um campo de batalha enquanto mil coisas acontecem ao mesmo tempo, mas o único ponto de vista é o dele. Nada de grandes planos e tomadas épicas. Basta uma única câmera, sem cortes, atravessando todo o campo, assustada como mais um personagem do filme. É assim o tempo todo, seja na guerra, seja nas ruas de uma Londres sem esperança ou nos campos de concentração de imigrantes (agora todos ilegais).

Não faltam referências ao nosso passado e nosso presente. Tirando a infertilidade generalizada, praticamente tudo em Filhos da Esperança já aconteceu ou acontece hoje. Talvez seja por isso que o tempo todo temos a sensação de estarmos nesse futuro, seguindo em silêncio os passos de Theo através dos olhos de Cuarón. Um olhar que realmente vale a pena conhecer de perto.

05 dezembro 2006

[DVD] Pra esses dias de sofá

OK, fiquei um looongo tempo sem postar. Foi mal, galera. Mas sabe como são aqueles dias em que não dá tempo nem pra pensar no que não tá dando tempo de fazer? Pois é. E pensando nessa falta de tempo pro chope ou pra uma fila de cinema, que selecionei umas dicas pra você pegar na locadora e se esbaldar no sofá de madrugada.

Meu Encontro com Drew Barrimore
Esse aqui passou no Festival do Rio. Quem não viu e estiver na pilha de enfrentar um documentário na linha documentarista-personagem-olhem-pra mim (como o excelente Super Size Me), pode gostar.

Aqui você vai ver como um cara chamado Brian Herzlinger faz de tudo pra se encontrar com a atriz Drew Barrimore. Parece bobo (e é mesmo), mas se o clima é de deixar os neurônios descansarem, vá fundo.

O filme foi feito em apenas 30 dias e custou pouco mais de mil dólares, mas rendeu uma boa leva de fãs.

O Abismo do Medo
Quem ainda não viu esse terror de deixar muitos por aí no chinelo, não deixe de pegar pra ver bem no meio da madrugada com as luzes apagadas.

Se quiser ler mais sobre este filme, clique aqui.

O Código da Vinci
Hahaha. Te peguei! Posso indicar coisas trash, mas não faria você perder seu tempo com um filme tão ruim que é capaz de fazer um best seller ser pior e mais chato que qualquer filme da Xuxa (com excessão de A Princesa Xuxa e os Trapalhões, claro, hehe).

Roma - 1a Temporada
Se o seu negócio é gastar algumas longas horas seguindo todos os episódios de uma temporada que não teve tempo ou saco pra ver nos horários absurdos da TV, não pense duas vezes quando encontrar Roma na prateleira da sua locadora.

Essa superprodução da HBO mostra, sem pudores, os dia-a-dia de uma das mais importantes cidades do mundo, 52 anos antes de Cristo. A´liás, qualquer série da HBO que você encontrar na prateleira, terá uma grande chance de não se decepcionar. Estou viciado em Família Soprano anos depois de ter estreado. E vai merecer um longo post ainda.

Vôo United 93
OK. O clima não é nem pra documentáro, muito menos terror e sai-pra-lá-produção-made-for-tv? Que tal um drama baseado nos ataques de 11 de setembro?

Paul Greengrass (o diretor de A Supremacia Bourne) mandou bem ao contar a história do quarto avião seqüestrado,com destino à Casa Branca, e que suportamente foi derrubado por uma rebelião de seus passageiros.

Um detalhe bacana: o filme se passa em tempo real e é bem melhor que aquela bobagem do Oliver Stone sobre as Torres Gêmeas com Nicolas Cage de bigodinho à la YMCA.

Pronto. Agora é botar a pipoca no microondas, a cerveja no congelador, os pés pra cima e relaxar. E volte logo porque o Com Pipoca vai bombar pra esse final de semana.

24 novembro 2006

[BLAH] Só um desabafo

Bem antes que o homem se entendesse por gente, o ato de bater as palmas das mãos uma na outra já significava contentamento, alegria, satisfação, ou pedido de mais um peixe (não, peraí, esse é das focas).

O fato é que, até hoje, quando gostamos de um discurso, uma peça de teatro ou um show de música, naturalmente aplaudimos. As possibilidades do ato de bater palmas são quase infinitas, desde que, claro, exista alguém ali pra recebê-las, ou pra ficar sem graça com elas (E no caso das focas, desde que exista alguém com um balde cheinho de peixes por perto).

O aplauso é tão antigo no mundo que tem inúmeras variações dependendo de cada cultura. Na maioria dos países ocidentais, por exemplo, quanto mais barulho gerado pelo apluso, melhor foi o espetáculo. Mas tanto no caso dos homens, quanto no das alegres foquinhas, existe um fator em comum: alguém está presente pra receber as palmas.

Agora imagine essa cena: Você está com alguns amigos no sofá da sua sala vendo TV. O filme acaba. Sem olhar um pro outro, vocês começam a aplaudir. Seu colega do lado levanta-se emocionado e os outros acompanham. Quando o momento emoção acaba, você desliga a TV e sai com a galera pra tomar uma cerveja. Meio surreal, certo?

Agora me explica porque cargas d'água algumas pessoas fazem exatamente isso no cinema. A diferença é que no lugar do sofá tem uma poltrona suja de pipoca e no lugar da TV tem uma tela do tamanho de uma parede. Detalhe: Não é de uma pré-estréia com a equipe do filme presente. É um filme (seja lá coreano, hindu, indiano ou qualquer coisa do tipo) feito sabe-se lá há quanto tempo e que só chegou aqui porque tinham que cobrir um buraco na programação de um festival de cinema. Pelo menos essa mania não se espalhou muito (ainda) fora do circuitinho hype dos festivais.

Será que essa horda que acompanha os aplausos faz isso porque leu que no festival de Cannes tal diretor foi aplaudido de pé ou qualquer coisa que o valha? Porque é hype? Porque é cool quem aplaude em festival? É possível. Agora, será que se uma foca ver um balde de peixes no chão, sem ninguém pra jogá-los na sua boca, ela também ficaria batendo palminhas pro nada? Hmmm... será?

22 novembro 2006

[CINE] Uma bela fonte de discussão

Sabe estes filmes oito ou oitenta? Quando você ama de paixão ou sai amaldiçoando até a últma geração do infeliz que teve a pachorra de filmar aquilo? É mais ou menos isso que A Fonte da Vida (The Fountain), o novo filme do diretor Darren Aronofsky (Pi e Réquiem para um Sonho) pode provocar nas pessoas.

Mas que fique bem claro: Essa relação de amor e ódio são mais culpa de como o filme está sendo vendido que do filme em si. Eu explico. A história de A Fonte da Vida, escrita por Ari Handel e pelo próprio Aronofsky, é bem mais conceitual do que um espera um público que vai ao cinema ver Hugh Wolverine Jackman. Pelo trailer é muito fácil imaginar uma grande aventura de amor com um quê de fantasia e imagenas deslumbrantes. Sim, o filme tem tudo isso, mas são só maneiras de falar de um tema bem mais profundo. Se você espera uma história simples, com moral fácil de ser pescada e um final feijão com arroz, pode se decepcionar feio.

A Fonte da Vida (que estréia nesta sexta-feira nos cinemas) conta três histórias paralelas. Uma passada no presente, em que o cientista Tommy Creo (Hugh Jackman, em sua melhor atuação), busca desesperadamente pela cura do câncer para salvar sua esposa Izzi (Rachel Weisz). Ele tem esperanças porque uma amostra tirada de uma árvore da América do Sul parece ter um poder de cura impressionante. Porém a planta parece ter um ótimo poder de longevidade, mas não de cura da doença. Enquanto Tommy prefere a solidão de suas pesquisas a ficar com sua esposa doente, Izzi escreve um livro sobre um conquistador (de novo Jackman) que parte em busca da Árvore da Vida a pedido de sua rainha Isabel (também Weisz). A terceira história é passada no futuro, quando o o cientista Tommy (adivinhe, Jackman) viaja pelo espaço em busca da última chance de trazer Izzi de volta.

Pode parecer complexo (ou até bobo), mas o fato é que A Fonte da Vida traz à tona questões difíceis de se encontrar no cinema. É daqueles filmes que você precisa digerir e tirar suas próprias conclusões algum tempo depois que os créditos finais sobem. As peças do quebra-cabeças vão se encaixando aos poucos.

Há quem ache o filme pretensioso, chato e com alguns diálogos beirando o clichê. Mas pelo que ele se propõe: provocar uma reflexão séria sobre a vida, a morte e a existência, A Fonte da Vida cumpre bonito o seu papel.

17 novembro 2006

[CINE] Existe magia no cinema

Um bom truque é realizado em três atos: O primeiro é a apresentação. Nele, o mágico apresenta à platéia algo perfeitamente comum e corriqueiro. Em seguida vem o segundo ato: a virada. É a hora em que algo acontece com o tal objeto comum e ele se torna especial, invisível, diferente. Mas o que realmente surpreende é o terceiro ato, chamado aqui por "The prestige". Ele é o grand finale que faz de um simples truque um grande acontecimento. É a reviravolta que encanta a platéia e deixa até mesmo outros ilusionistas verdes de inveja e se corroendo por não saber como aquilo é possível.

Em O Grande Truque (The Prestige), o diretor Christopher Nolan mostra que estas regras também valem para um grande filme. Não é de hoje que Nolan mexe com a platéia. Desde que lançou Amnésia, em 2000 e mais recentemente com Batman Begins, ele tem mostrado um verdadeiro mestre em tornar real e verossímil a idéia mais mirabolante.

Adaptado do livro The Prestige, de Christopher Priest, O Grande Truque fala da rivalidade entre os mágicos Robert Angier (Hugh Wolverine Jackman) e Alfred Borden (Christian Batman Bale) na Londres do finalzinho do século XIX. Na busca pelo truque perfeito e inimitável, Robert conhece Nikola Tesla (David Bowie), um personagem que existiu na vida real e que, no filme, cria uma traquitana que possibilita o tal grande truque. Essa história é contada sem nenhuma linearidade. Os saltos no tempo fluem com uma naturalidade impressionante e cada cena é mais uma peça de um complexo quebra-cabeças. Como em todo bom número de magia, está tudo ali, bem diante de seus olhos, basta prestar atenção no ponto certo. Mas Nolan é fera em tirar sua atenção da solução e concentrá-la somente naquilo que lhe interessa.

Mas o que é real? O que é magia? Afinal, existe magia? Qual dos dois mágicos é o bonzinho? Existe um bom? Não queira saber antes. Só saiba que a magia existe sim. E ela é toda do diretor Christopher Nolan. Existe muito mais do que simples sacadas dentro de sua cartola.

16 novembro 2006

[CINE] Vá ver

Pedro Almodóvar é um diretor superestimado. Claro, não tem como ignorar a qualidade de tudo o que ele faz, com todas aquelas cores berrantes, plumas, dramas rasgados, sexos trocados, Caetanos cantando Cucurucucu e tudo que existe de mais Almodovariano no cinema. Mas é o oba-oba que se criou em torno disso que incomoda. Ele é sim, muito bom, mas não é 100% do tempo genial.

Mas com Volver, Almodóvar chega muito próximo da genialidade. Sua dominância sobre o universo feminino está cada vez mais apurada. A densidade e a delicadeza com que ele pinta suas mulheres é impressionante. A presença masculina no filme é quase imperceptível e serve apenas para destacar ainda mais suas heroínas Raimunda (Penélope Cruz), Sole (Lola Dueñas) e Irene (Carmen Maura).

Raimunda e Sole são irmãs. Filhas de Irene, que já morreu há muito tempo. Corre um boato de que o fantasma de Irene ainda cuida de sua irmã, Paula em um pequeno vilarejo nos arredores de Madri. Eis que Paula morre e Sole vai até o vilarejo para o enterro. Na volta, descobre que o fantasma da mãe pegou carona no porta-malas de seu carro e tem algumas pendências para resolver.

Enquanto isso Raimunda tem um outro problema: desaparecer com o corpo de seu marido assassinado pela filha na cozinha de sua casa. Precisa dizer mais alguma coisa? Nem preciso dizer que Volver fisga a platéia até a última cena.

Volver é uma volta em vários sentidos. É a volta de Almodóvar a uma narrativa mais tradicional, com começo, meio e fim. Ele deixa de lado as firulas temporais e os devaneios entre ficção e realidade para concentrar suas intenções nas entrelinhas da história. Cada plano tem um motivo. Sua perversão, muito abordada em outros filmes, dá lugar a um olhar mais tenro, porém longe de ser inocente. Depois de Volver, vai ser um pouco mais difícil me incomodar com o oba-oba em torno da genialidade de Almodóvar. Aqui ele fez por merecer.

13 novembro 2006

[NEWS] Um desenho e um herói

No que depender das próximas estréias no cinema, ninguém vai ter motivo pra reclamar que não tem nada pra fazer no fim de semana. Aliás, com as estréias que já estão rolando este mês, você já devia estar na fila pra comprar seu ingresso (Essa semana o Com Pipoca vai bombar de novidades. Aguarde!).

Como um trailer fala por mais de mil posts, assista (e babe) com estes dois videos fresquinhos que acabaram de sair da gaveta.


Alguém ainda tem dúvida que vai ser hilário?


Haja fôlego!

Agora é só torcer pra que cheguem logo os grandes dias. Tô contando os minutos aqui.

07 novembro 2006

[CINE] O retorno de um grande homem

Que Martin Scorsese é um dos grandes homens do cinema, isso não há dúvida. E que ele anda pisando feio na bola desde que elencou o sem sal Leonardo de Caprio para ser seu pupilo, todo mundo já sabe. Mas com Os Infiltrados (The Departed), Scorsese sacudiu a poeira e deu uma volta por cima como há muito não se via.

O filme mal estreou e não tenho receio de dizer que ele já está entre as maiores obras-primas do cinema, bem ao lado de Os Bons Companheiros (o auge de Scorsese). A história de Os Infiltrados é baseada no sucesso Hong Konguiano Conflitos Internos (que por lá teve duas continuações). Apesar de o mesmo argumento, Martin conseguiu a façanha de transformá-lo em um filme legitimamente seu, como só um diretor de Taxi Driver, A Última Tentação de Cristo e Cassino seria capaz de fazer.

Em Os Infiltrados, Colin Sullivan (Matt Damon) é o protegido do mafiosão irlandês Frank Costello (Jack Nicholson de novo digno de Oscar). Ele é treinado desde cedo para ser o policial perfeito que, com o tempo, conquista um lugar de prestígio na academia. O informante perfeito. Por outro lado, vemos Billy Costigan (Leonardo DiCaprio espantosamente atuando bem), o policial escolhido pelo chefe de polícia Oliver Queenan (Martin Sheen) para se infiltrar na gangue mafiosa de Costello. Agora bote aí uma psicóloga (Vera Farmiga) que se torna o grande amor dos dois infiltrados, servindo como ponto de conexão entre eles.

Pronto, o circo está armado. E Scorcese brinca com todos estes elementos perigosos de uma maneira brilhante. Até a fotografia de Michael Ballhaus, com seus altos contrastes entre claro e escuro, ajuda a contar essa história de dois mundos opostos e ao mesmo tempo tão conectados.

Os Infiltrados é o melhor Scorsese em muito tempo. Forte, seguro, inteligente. Como o filme de um grande homem deve ser.

03 novembro 2006

[CINE] Trama pra quê? É o Altman!

Muitos, muitos personagens, várias historinhas paralelas conduzidas apenas por um fino fio central, um pout-porri de astros de primeira linha (calma, não é a próxima novela do Manoel Carlos). Eis A Última Noite, mais um (e com toda cara de o último) filme do diretor Robert Altman (Assassinato em Gosford Park, Dr. T e as Mulheres).

A Última Noite mostra uma fictícia última apresentação ao vivo de um programa que é uma lenda nos EUA: A Prairie Home Companion (título original do filme). O criador e apresentador do programa (que está no ar há 31 anos), Garrison Keillor foi muito feliz ao se aliar a Robert Altman para co-roteirizar e estrelar um filme em que a história de cada personagem é mais importante que trama geral.

Nesta última noite, a câmera de Altman corre freneticamente entre bastidores e palco do programa de rádio. Repare nos camarins lotados de espelhos. É delicioso correr os olhos por todos aqueles reflexos e ângulos diferentes dos personagens, todos no mesmo quadro. E o mais impressionante é que a câmera simplesmente não aparece em nenhum, mesmo quando passa em frente a um espelho. É como se ela fosse um fantasma assistindo de perto a tudo o que acontece nessa última e melancólica apresentação do programa.

Se você espera um filme padrão, com começo, meio e fim e uma possível moral da história, esqueça. A Última Noite não é assim. São alguns recomeços, vários meios, um ou outro fim. Tudo costurado pra que você se encante com cada um dos personagens. Aqui, atores e atrizes como Meryl Streep, Virginia Madsen, Woody Harrelson, Lindsay Lohan, Kevin Kline e Tommy Lee Jones cantam e improvisam suas falas o tempo todo.

Você pode até não saber a razão de estar gostando, mas é difícil segurar alguns sorrisos, como se aquela dupla de vaqueiros contando piadas ou o dueto de irmãs cantoras (uma espécie de irmãs Galvão da gringolândia) fossem seus amigos de longa data. Pra quem já é fã de Altman (ou do Maneco), A Última Noite é um prato cheio e imperdível.

27 outubro 2006

[CINE] Um noir de 2006 que poderia ser de 1946

Assassinatos, corrupção, sexo, mulheres fatais, drogas, traições. É com essa mistura perigosamenste sexy e sombria, com roteiros baseados nos romances policiais americanos e referências estéticas do expressionismo alemão (alto contraste, preto-e-branco) que nasceu o grande gênero das décadas de 40 e 50: o film noir.

E foi inspirado nesse estilo que definiu uma época que o diretor Brian DePalma retornou às telonas com seu Dália Negra. O filme é uma adaptação do romance de James Ellroy sobre o assassinato real de Betty Short, que foi conhecido como o caso da Dália Negra (apelido de Betty). O curioso é que o próprio escritor tem uma ligação com o caso. Sua mãe também foi assassinada quase dois anos depois do primeiro crime.

No filme de DePalma, o policial Bucky Bleichaert (Josh Harnett) narra a história e conta como se tornou melhor amigo de seu colega Lee Blanchard (Aaron Eckhart) e Kay (Scarlett Johansson), a esposa-loira-fatal de Lee. Os dois policiais ganham aura de heróis ao lutarem boxe nas horas vagas com os codinomes Mr. Fire e Mr. Ice. Tudo são flores até que uma mulher é encontrada morta à beira de uma estrada, com a boca rasgada de orelha a orelha. Lee e Bucky são encarregados do caso. Nesse ponto Brian DePalma leva o espectador aos cantos mais escuros do submundo e apresenta a rica e devassa Madeleine Linscott (Hilary Swank). O personagem seria perfeito não fosse a surpreendente má atuação da oscarizada Hilary. Num ringue entre mulheres fatais, Scarlett ganharia no primeiro round.

Apesar da escorregada de escalação do elenco, o cuidado estético de Dália Negra é impecável. Está tudo ali: o clima, os contrastes, a sensação de perigo em cada mudança de cena. É praticamente um filme feito nos anos 40 à perfeição. E é aí que está o seu maior defeito: é praticamente um filme feito nos anos 40. O que chocava, o que surpreendia, o que emocionava naquela época já se perdeu há décadas.

Ao ver Dália Negra, não restam dúvidas quanto à genialidade da direção de Brian DePalma e não sobram parabéns à reconstituição perfeita de um gênero. Mas é tudo estético, plástico. Nossa mentalidade mudou. Nossas referências mudaram. Dália Negra pode encantar os olhos, mas não emociona.


Pro bate-papo no bar depois do cinema:

O termo film noir (do francês, filme preto) foi atribuído pela primeira vez a um filme pelo crítico francês Nino Frank em 1946. O termo era desconhecido dos diretores e atores enquanto eles criavam os noirs clássicos. Na verdade, eles nem tinham consciência de estarem criando um tipo distinto de filme. Noir só virou gênero muito depois, quando passou a ser usado por historiadores do cinema e críticos de cinema.

21 outubro 2006

[CINE] O grande filme da pequena miss

Sabe quando dá aquela vontade de sair correndo e sentir o vento batendo na cara? Mas aí vem aquela preguiça e alguma coisa te puxa pra realidade parada e monótona de antes? Na próxima vez, corra pra ver Pequena Miss Sunshine.

Pequena Miss Sunshine mistura o típico filme-independente-americano-de-festival (família classe média meio doida em crise) com o também típico filme de estrada e ainda um toque de comédia na medida certa. É nessa mistureba toda que você segue a história da família Hoover: Um pai (Greg Kinnear) cujo trabalho é dar palestras de auto-ajuda, uma mãe (Toni Collette) que se divide entre trabalhar fora e cuidar da casa, um filho adolescente (Paul Dano) fascinado por Nietzche e que fez um voto de silêncio há meses pra virar piloto da aeronáutica, uma garotinha de 9 anos (Abigail Breslin) no auge da esquisitisse pré-adolescente que sonha em ser miss, um tio gay professor e suicida (Steve Carrell, The Office e O Virgem de 40 Anos) e um avô (Alan Arkin) que foi expulso do asilo por ser viciado em heroína.

Agora bote todo mundo dentro de uma Kombi amarela caindo aos pedaços. Bote na frente uma longa viagem do Novo México até a Califórnia. O objetivo? Realizar o sonho de uma garotinha de participar de um concurso de beleza infantil.

Pequena Miss Sunshine está longe de uma cópia menos escatológica de Férias Frustradas (apesar de ter uns momentos tão hilários quanto). O filme trata de uma maneira leve e quase poética temas sérios como frustração e aceitação. É impossível não se encantar com cada um dos personagens e com o rumo que a vida de cada um dele toma ao se verem obrigados a conviver em um espaço tão pequeno e vivendo emoções tão grandes.

Não é à toa que o filme está bombando e ganhando cada vez mais notoriedade desde sua estréia no Festival de Sundance, onde foi aplaudido de pé (e olha que aplusos de pé em Sundance já não significavam muita coisa há um bom tempo).

Você vai sair do cinema com aquela mesma sensação de leveza e vontade de pisar fundo no acelerador. Afinal, a vida é uma longa estrada que ainda precisa ser percorrida, mesmo que pra isso você só tenha um carro caindo aos pedaços.

09 outubro 2006

[BLAH] Nasceu o primeiro Podcast Com Pipoca

Demorou, atrasou, emperrou, mas finalmente saiu o primeiro Podcast Com Pipoca. Agora você pode ler sobre os filmes no blog e ouvir sobre as trilhas no podcast! Tá bom ou quer mais? :) E pra esse podcast de abertura, fiz uma seleção só de músicas que abrem os filmes e seriados. Aquelas que dão o tom ao filme logo de cara.

Mas que #*$@& é um podcast?
Poscast é uma espécia de programa de rádio que você ouve no computador e pode gravar no seu MP3 Player. O bacana é que dá pra assinar o podcast em seu player. Sempre que tiver um programa novo, ele automaticamente baixa pra você. E fazer isso é mais fácil que derrubar pipoca no cinema. Saca só:

Opção 1: Se você quiser simplesmente baixar o arquivo MP3 pra sua máquina, é só clicar AQUI com o botão direito do mouse e escolher "Salvar destino como...". Isso não é uma assinatura. Assim você estará apenas fazendo download deste episódio específico.

Opção 2: Agora, se você quiser assinar este podcast pra tê-lo sempre atualizado na sua máquina, existem várias opções. A que eu mais uso e recomendo é a do iTunes. Se você usa este player, é só clicar no botão abaixo pra assinar.


Opção 3: E se quiser assinar em qualquer outro leitor de RSS, é só clicar com o botão direito AQUI, escolher a opção "Copiar atalho" e colar no campo reservado pra este endereço no seu leitor.

E agora chega de blá-blá-blá e vamos ouvir um pouco de música!
Pra ouvir sem baixar, CLIQUE AQUI.

05 outubro 2006

[CINE] Não vale o sacrifício

Não costumo deixar de ver um filme por causa de um ator medíocre no elenco, mas definitivamente preciso abrir uma excessão quando o dito é Nicolas Cage. Bastou o cara atuar bêbado em Despedida em Las Vegas pra que aquela eterna cara de cahorro-que-caiu-da-mudança fosse considerada uma ótima "atuação" em qualquer filme que ele apareça.

Mas finalmente encontrei um filme em que essa canastrice toda se encaixa como uma luva: o remake do cult de 1973, The Wicker Man. No original, o policial Neil Howie (Edward Woodward) vai até Summerisle, uma ilha na escócia, para investigar o desaparecimento de uma garota. Ele descobre que a ilha é o lar de uma comunidade pagã que defende o amor livre e um modo de vida que é contra todos os padrões conservadores em que ele acredita.

Na versão 2006, que no Brasil se chamará O Sacrifício, o policial Edward Malus (Nicolas Cage) viaja até uma ilha na costa do Maine, EUA atrás da tal garota, e não demora pra que ele descubra os rituais bizarros da tal seita pagã. Mas as mudanças foram tantas e este filme, dirigido por Neil LaBute (do bobo Possessão) foi destruído a tal ponto que até o diretor do original, Robin Hardy, meteu o pau no remake. A sociedade patriarcal da versão de 73 foi trocada por uma sociedade matriarcal, em que os homens são mero objeto para o trabalho pesado e para a reprodução. Tem até uma analogia com uma colméia de abelhas que é tão absurda que dá vergonha.

A pena é que O Sacrifício tem um elenco feminino ótimo, como Elen Burstin (a mãe de Réquiem Para um Sonho) e Leelee Sobieski (a filha do dono da loja de máscaras em De Olhos Bem Fechados). Talentos desperdiçados em meio a tanta bobagem. É constrangedor. Só vale pela última cena, emque a expressão facial do senhor Cage muda de cachorro-que-caiu-da-mudança pra cachorro-que-morreu-queimado-numa-fogueira-de-palha. Se bem que já existe a versão com bigodinho safado soterrado nas Torres Gêmeas, né... Será que vale o sacrifíco?

28 setembro 2006

[CINE] Um doce duro de roer

A primeira coisa que você precisa fazer sobre Menina má.com (Hard Candy) é esquecer seu título em português. Ele passa uma impressão errada e depreciativa sobre o filme. A segunda coisa é saber que, quanto menos você souber sobre a trama, melhor. Este filme dirigido pelo novato David Slade tem o poder de superar qualquer expectativa. Basta o cartaz pra aguçar a curiosidade: uma referência clara à Chapeuzinho Vermelho servindo de isca em uma armadilha para o Lobo Mau. Precisa mais?

Menina má conta a história de Hayley (Ellen Page), uma linda garotinha de 14 anos e Jeff (Patrick Wilson), um fotógrafo bonitão e bem sucedido. Eles se conhecem numa sala de bate-papo na internet e decidem se encontrar . Não demora muito pra que os dois estejam sozinhos na casa de Jeff. Até aí, nada de mais. Uma típica historinha de pedófilo bonitão seduzindo garotinha sexy menor de idade. Mas de repente tudo muda e os papéis se invertem bizarramente. Está armado o circo mais tenso e sádico dos últimos tempos.

O plano de Hayley vai tomando proporções tão inusitadas e a tensão aumenta de tal forma que o roteiro chega a extrapolar o limite da veracidade. Mas a atuação magnífica de Ellen Page (que também roubou a cena no último X-Men, como Kitty Pryde) segura a onda de tal forma que qualquer buraco no roteiro é facilmente perdoado e aceito. O que vale é saber como tudo aquilo vai acabar. E rápido! Porque é impossível saber até o último momento se realmente trata-se de um pedófilo sendo punido ou se a garota é uma psicótica mirim, tal seu grau de frieza e sadismo. Portanto, prepare-se para alguns dos momentos mais tensos que você já viveu no cinema. E se você é homem, respire fundo porque Menina má.com não é só tenso. Dói.

27 setembro 2006

[CINE] O diabo merecia algo melhor

O que esperar de um filme sobre o ultra-mega-hype-mundinho-fashion que tem o roteiro e a trilha sonora mais bregas dos últimos tempos? Tirando a atuação excepcional de Meryl Streep, o figurino editorial de Patrícia Field (Sex and the City) e meia dúzia de ótimas piadas, não muita coisa.

Este pecado cinematográfico tem nome: O Diabo Veste Prada. O filme é baseado na história de Lauren Weisberg, ex-assistente de Anna Wintour, a mulher mais poderosa e influente do universo da moda e chefe suprema da revista Vogue americana. Lauren resolveu, sem citar nomes, botar a boca no trombone sobre os podres do universo da moda. Daí nasceu o livro. Só que no filme, a cínica Lauren é a sem sal Andy Sachs (Anne Hathaway) e a rainha-bitch-Wintour se transforma na ainda supermalvada Miranda Priestly (Meryl Streep). Mas conseguiram dar um jeito de adocicar a personagem no final. Deprimente.

O grande problema com a adaptação pra telona de O Diabo Veste Prada é seu maniqueísmo exagerado. Parece que entre tantos Dior, Chanel, Jimmy Choo e Dolce & Gabbana ninguém reparou que separar o mundo entre pobres bonzinhos e ricos malvados já saiu de moda há décadas. Nem os Teletubbies são tão ingênuos. A pobre Andy chega na cidade grande em busca de um emprego e cai nas garras da megera editora da revista Runaway. E o maior pecado que ela comete é começar a se vestir (muito) bem. As discussões com seus amigos e namorado sobre "a pessoa que ela deixou de ser" são de uma falta de bom senso impressionante.

No fim das contas você fica se perguntando quem é o tal diabo. A megera que se dedica 100% ao seu trabalho ou o bando de amigos e o namorado bocó que não deixam Andy seguir sua vida e fazer suas próprias escolhas. Pelo menos você pode fazer a sua: se estiver na pilha de assistir a um impressionante desfile da alta costura e uma atuação excepcional de Meryl Streep, vá em frente sem medo. Mas lembre-se que, neste filme, qualquer coisa além disso não tem mais salvação.

23 setembro 2006

[CINE] Tem pra todo mundo

As camisas de gola rulê estão em polvorosa por sair da gaveta. Os óculos de aro grosso já estão brilhando pra não perder um só segundo. E as boinas e os cachecóis não estão nem aí pro calor.

O motivo desse frisson todo? O Festival do Rio 2006 que começou ontem. Um deleite para todas as tribos e estereótipos. E até para gente como a gente, que adora um bom cinema. São mais de 350 filmes de 60 países. A maior parte destes filmes não vai passar nem perto de ser lançada no circuito comercial e dificilmente dará as caras em DVD por aqui. Ou seja: é assistir agora ou correr atrás de download depois.

Como é muito filme pra um post só (e pra que um pobre mortal trabalhador no horário comercial conseguir ver), vou fazer aqui uma listinha prévia dos meus primeiros 5 imperdíveis. Cada dia incluo mais alguns e comento os que já vi, ok?

1 - A Scanner Darkly: Esse filme de animação baseado em um conto de Philip K. Dick e dirigido por Richard Linklater utiliza a técnica de rotoscopia digital (animação sobre cenas filmadas). O diretor havia usado esta técnica em seu Waking Life, de 2001 e agora volta com Keanu Reeves encabeçando o elenco. Já vale só pelo visual.
Mostra: Panorama - 23/09: 13h 24/09: 16h30, 21h30 26/09: 18h45

2 - Dália Negra: Baseado no best-seller de James Ellroy, Dália Negra é o novo filme de Brian De Palma e traz Scarlet Johansson (Match Point) e Hilary Swank no elenco. Exibido pela primeira vez no Festval de Veneza de 2006, o filme conta uma história de um crime real que chocou os EUA em 1947.
Mostra: Panorama - 23/09: 24h 24/09: 16h30, 21h30 25/09: 14h, 19 27/09: 16h30, 21h30

3 - Daft Punk's Electroma: O grande frisson desse filme está na volta da dupla francesa de música eletrônica Daft Punk aos cinemas. Depois da odisséia musical que se imortalizou na animação Interstela 5555, dessa vez a dupla conta a história de dois robôs em sua busca por se tornarem humanos. Detalhe: o filme todo não tem falas e a trilha não tem uma só canção do Daft Punk. Mal posso esperar.
Mostra: Midnight Movies - 28/09: 23h45 01/10: 19h, 22h

4 - Red Road: Este é o primeiro filme de um projeto chamado Advance Party, da produtora de Lars Von Trier. O lance é três diretores diferentes desenvolverem roteiros com os mesmos personagens. Daí nasceu Red Road, que conta a história de um segurança que vigia as ruas através de câmeras até que decide seguir um homem com elas. Ganhador do prêmio do juri no Festival de Cannes 2006.
Mostra: Expectativa - 02/10: 13h, 19h45 04/10: 16h30, 21h30

5 - O Planeta das Mulheres Invasoras: Este filme mexicano de 1956 (pra lá de trash) é uma continuação de Gigantes Planetários. Nele, um grupo de amigos entra em um disco voador em um parque de diversões achando tratar-se de um brinquedo. Mas era uma nave real que os leva para o planeta Sibilia. Os Sibilanos querem invadir a Terra, mas antes precisam transplantar órgãos humanos para adaptar seus pulmões à nossa atmosfera.
Mostra: Sci-fi Mex - 26/09 24h 30/09: 17h 01/10: 21h15 02/10: 19h

19 setembro 2006

[TV] Mais Lost que nunca

Antes de continuar, um aviso: este post é pra aficcionados pela série Lost. Se você ainda não viu a segunda temporada completa no AXN (ou baixada na internet) ou não quer saber patavina de descobertas importantes, NÃO SIGA EM FRENTE. Tem um menu lateral aí cheio de opções de outros posts.

Agora, se você não agüenta um mistério, saca só o que já tá rolando na net. É que no último post que escrevi sobre Lost, prometi que voltaria com os códigos pra se montar o vídeo completo que a hacker Rachel Blake disponibilizou na web em 70 fragmentos codificados. O tal vídeo desmascaria Alvar Hanso e sua fundação. Bem, ele já está completo! Respire fundo e veja por si mesmo:



Em poucas linhas, o vídeo mostra que em 1962 um matemático contratado da ONU conseguiu passar para uma equação numérica as variáveis que dizem quanto tempo temos de vida na Terra até nossa extinção, levando em consideração as guerras, doenças, etc. A tal chamada Equação de Valenzetti, que tem como fatores fundamentais os números: 4, 8, 15, 16, 23 e 42 (olha os números malditos aí, gente!). Foi assim que a Hanso Foudation criou a Iniciativa Dharma (Department of Heuristics And Research on Material Applications) para tentar prolongar ao máximo nossa estadia na Terra. Só que os meios de se conseguir isso não são nada amigáveis...

Se você ainda não está entendendo lhufas, veja os posts relacionados:
27/04 - E por falar em Lost...
10/05 - Desvendando mistérios por aí
18/08 - Enquanto Lost Não Vem...

E que venha a terceira temporada!

18 setembro 2006

[CINE] Terror em plena forma

Prepare-se para sentir pavor e fechar os olhos no cinema. Há um bom tempo que não se fazia um filme de terror tão apavorante como O Abismo do Medo (The Descent).

Esse filme indepentende britânico, dirigido por Neil Marshall, é um verdadeiro oasis no meio de tanta banalidade que se tem criado em torno do gênero. Ao mesmo tempo em Neil que foge dos clichês, ele aplica com inteligência e sutileza muitas referências de clássicos do terror, como O Iluminado do mestre Stanley Kubrick. E não pára por aí. Até no pôster do filme você encontra referências, como a obra Voluptate Mors de Salvador Dali.

A trama, apesar de alguns furos que não atrapalham em nada, tem seus pontos fortes. Aquele típico grupinho americanóide formado por brutamontes sarados e garotas peitudas, por exemplo, fica de fora. Em O Abismo do Medo, quem passa por apuros é um grupo de seis amigas apaixonadas por esportes radicais que parte para uma expedição em uma caverna nos montes Apalaches, nos EUA. O problema é que elas ficam presas nessa caverna e precisam se embrenhar cada vez mais fundo por túneis minúsculos e salões pra lá de clautrofóbicos pra tentar encontrar outra saída. Até que elas descobrem que não estão sozinhas. O filme tem sido comparado a Alien: O Oitavo Passageiro. Eu não chegaria a tanto, mas com certeza O Abismo do Medo está anos luz a frente de qualquer coisa que se tenha feito nos últimos anos.

Pra ter uma idéia, chega uma hora em que você se vê num dilema entre enfrentar o resto do filme com as mãos nos olhos e rezando pra que acabe logo aquele sufoco ou sair da sala sem saber como tudo acaba. Só posso dizer uma coisa: agüente firme. O final vale muito a pena. Mais uma prova de que ainda existe vida inteligente do lado de lá da tela quando o assunto é fazer um filme de dar medo. De verdade.

15 setembro 2006

[DVD] Só faltaram os trilhos

Tem filme que você vê claramente que alguém teve uma idéia genial pro final, com várias reviravoltas e surpresas realmente bacanas. É o caso de Fora de Rumo (Derailed), suspense de estréia do diretor sueco Mikael Håfström. Só tem um problema: ninguém teve neurônios suficientes pra bolar um meio decente de se chegar nesse final.

No filme, Charlie Schine (Clive Owen) é um publicitário casado que conhece a atraente e também casada Lucinda Harris (Jeniffer Aniston quase conseguindo não ser Rachel Green, sua personagem eterna em Friends). Nem precisa dizer que os dois se sentem atraídos e, quando resolvem oficializar a pulada de cerca num hotelzinho barato, acontece algo que muda radicalmente o rumo da trama (sacou o nome do filme?).

Só que ao mudar de rumo, a história saiu do trilho. Tudo começa a ficar muuuito forçado. Não dá pra acreditar nas ações dos personagens. Não existe razão alguma pra eles fazerem o que fazem. E os personagens secundários? Eles deveriam dar suporte emocional à trama, mas o filme acaba e você nem lembra que eles estavam ali. Por essas e outras que, já quase no final do DVD, você fica imaginando se não estaria passando alguma reprise do Brasileirão na TV (ou qualquer outro programa menos previsível). E eis que chegamos ao tal final bacana. Tudo muda, você se surpreende. Aquele Fluminense x Vasco pode esperar mais alguns minutos. E de repente, acaba.

Agora vem a pergunta: precisamos disso? Filme bom tem que, pelo menos, fazer sentido. Fora de Rumo é mais uma prova de que história que só tem começo e fim, descarrila lá no meio.

13 setembro 2006

[CINE] Esse indiano sabe nadar

Há quem diga que o roteirista e diretor indiano M. Night Shyamalan seja um grande farsante. Desde que estourou com o sucesso de O Sexto Sentido, ele vem criando uma série de filmes-não-conte-o-final que nunca conseguem superar sua obra-prima. Mas o engraçado é que, por mais que se fale mal de seus outros filmes, é quase impossível não correr pra conferir o mais recente nos cinemas.

Eis que estréia A Dama na Água. Já li e ouvi de tudo sobre o filme. Que é o pior de Shyamalan, que é o mais divertido, que é o mais diferente (este surpreendentemente não tem final surpreendente). É fato que o indiano sempre derrapa em algum momento da trama. Quer coisa mais desnecessária que aquele ET tosco aparecer no final de Sinais, por exemplo?

Mas também é fato que pouquíssimos diretores têm tamanha capacidade na construção de imagens. Os enquadramentos são milimetricamente calculados pra transmitir o clima certo de cada cena. Shyamalan consegue trazer para o mundo real, as balelas mais estapafúrdias que se possa imaginar. E tudo fica absolutamente crível.

Na trama de A Dama na Água, o zelador de um hotel, Cleveland Heep (Paul Giamatti), descobre uma mulher misteriosa na piscina do prédio (Bryce Dallas Howard), e acredita tratar-se de uma ninfa de contos de fadas tentando voltar pra casa. Pra isso, ela precisa da ajuda de vários moradores do prédio. Uma clara referência à necessidade da união entre os povos para um objetivo comum. O problema é que isso já virou clichê e beira o bobo. Sem contar que essa mania de mostrar bichos esquisitos nunca foi legal. Mas no caso de A Dama, a história é tão bem conduzida que, em certo momento, você se pega achando absolutamente normal uma criança lendo uma profecia em caixas de cereal.

Talvez o verdadeiro problema de M. Night Shyamalan seja ter conseguido não derrapar nada em O Sexto Sentido. Seus filmes mais recentes podem ter vários pequenos problemas, mas de farsante, esse indiano não tem nada. Só falta ter um pouquinho mais de coragem pra fugir da fórmula que o consagrou.

10 setembro 2006

[DVD] Dois rápidos no gatilho

Mais uma segunda-feira-pós-feriadão (ai...). Hora de curar a ressaca e levantar a poeira. E pra isso um bom bangue-bangue cai muito bem! Pra quem não sabe, esse gênero nasceu lá no comecinho do século XX pra contar as histórias dos vaqueiros que, na época, invadiam o oeste selvagem dos EUA. Nem precisa dizer que foi um sucesso.

Só que tudo que bomba, um dia desbomba. E no decorrer dos anos 30, 40 e 50, o faroeste (que vem de far west, ou oeste longínquo) foi gradualmente perdendo o sentido até desaparecer das telas. Ele sumiu mas não morreu. Apenas deixou de ser um gênero pra se tornar material de referência. E dois ótimos exemplos dessa referência usada com inteligência, você encontra fácil nas locadoras.

O primeiro é Querida Wendy. Um filme que consegue ter o peso da assinatura de Lars Von Trier (de Dançando no Escuro e Dogma) sem ser um soco forte no estômago. É que dessa vez, Von Trier apenas escreveu o roteiro, deixando a direção para seu colega Thomas Vinterberg. No filme, Dick é um jovem pacifista que acaba fascinado por armas de fogo. Ele então cria um clube secreto formado por jovens fracassados que descobre nas armas uma arma potente pra levar adiante seus ideais de paz. Contraditório? O filme todo é. Em todos os aspectos. E mesmo assim ele une estas duas pontas opostas com tanta precisão e coerência (e usando muito do que aprendemos com os melhores filmes de bangue-bangue) que chega a dar medo.

O segundo é 800 Balas, do espanhol Alex de la Iglesia. O filme, cheio de referências do faroeste, é uma homenagem ao bangue-bangue à italiana dos anos 60 e 70. A história se passa em "Texas Hollywood", onde supostamente muitos desses westerns foram filmados no passado. O local se tornou uma espécie de museu ao ar livre e também o ganha-pão de um grupo de atores que mora ali, encenando momentos clássicos do faroeste para os turistas de passagem. O problema é que Texas Hollywood está prestes a ser demolida e os atores resolvem se rebelar e defender sua cidade. Mas tem um problema: eles só têm 800 balas. Quer coisa mais faroesteira que essa? Até duelo rola no filme. Diversão garantida.

E então? Qual você vai sacar primeiro da prateleira?

29 agosto 2006

[CINE] O prazer é todo nosso

Prepare-se para o filme mais cínico, mais ácido e, provavelmente, um dos mais inteligentes que você pode ver em cartaz hoje.

Obrigado Por Fumar (Thank you for smoking) mostra como uma boa crítica social pode ser também engraçada. É como se Michael Moore (Farenheit 11/09 e Tiros em Columbine) aprendesse a contar piadas sem deixar de lado o ataque às grandes corporações e ao governo dos EUA.

Quem conseguiu realizar essa façanha foi o roteirista e diretor estreante Jason Reitman (O cara é filho de Ivan Reitman, diretor de Os Caça Fantasmas).

Obrigado Por Fumar conta a história de Nick Naylor (Aaron Eckart), um lobista da indústria do tabaco que esbanja poder de persuasão. Seus melhores amigos são outros dois lobistas. Bobby Jay Bliss, que defende a indústria de armas de fogo e Polly Bailey, da indústria de bebidas. Juntos, eles são "Os Mercadores da Morte". Ah, detalhe... estes são os mocinhos da história.

E pra dar uma pitada forte de humor politicamente incorreto, Nick passa mais da metade do filme ao lado de seu filho de 12 anos, que aprende a amar a profissão do pai. Quando o filme tem tudo pra virar um melodrama-água-com-açucar ou está prontinho pra dar uma lição de moral chata, Obrigado Por Fumar mostra escancaradamente que existe muito mais entre o céu do politicamente correto e o inferno da verdade nua e crua. Pra você ter uma idéia de como o filme é bom, até a atuação da intragável Katie Holmes se transforma num raro prazer (com o perdão do trocadilho).

Vou parar por aqui porque qualquer detalhe além disso pode estragar sua experiência no cinema. Obrigado por Fumar é um filme que faz rir, mas também faz pensar. E isso sim é extremamente raro hoje em dia.

24 agosto 2006

[CINE] Um terror de Silent Hill

Quando será que alguém com bom senso vai perceber que não basta botar um jogo de videogame na telona pra aquilo se chamar filme? Bem que podiam aprender com a galera que adapta quadrinhos. No caso de adaptação de games, e Terror em Silent Hill é mais um ótimo exemplo da incompetência em fazer um game bacana virar um filme idem.

Eles capricham bonito na estética, na fotografia, nas atrizes peitudas e saradas e nos monstros recém-chegados do inferno, mas a impressão que dá é que foram filmando, filmando, e depois juntaram tudo numa seqüência não necessariamente lógica, pra parecer que existe um fiapo de história por trás daquele show de efeitos especiais.

E olha que os primeiros minutos do filme me enganaram direitinho. Tirando as óbvias forçadas de barra e o excesso de clichês (quem ainda engole a lorota da tal menina de cabelos pretos jogados na cara e com voz tenebrosa?), o visual copiado à perfeição do jogo da Konami é realmente de dar medo. Mas a partir de um momento, a impressão que você tem é de estar na sala da sua casa vendo algum amigo jogar (e mal) o seu Playstation.

O que mais da medo em Silent Hill é saber que quem assina o roteiro (se é que podemos chamá-lo assim) é o roteirista Roger Avary, que escreveu nada menos que o inspiradíssimo Regras da Atração e co-roteirizou Pulp Fiction, ao lado de Quentin Tarantino (precisa mais?). Só me resta lamentar e dizer que, com essa fraca adaptação, ele perdeu uma boa oportunidade de ficar em silêncio.

23 agosto 2006

[NEWS] Taí um diretor que sabe vender seu peixe

Tudo começou em 94, quando o então diretor estreante Kevin Smith deu ao mundo O Balconista (Clerks). Rodado na loja de conveniência onde Kevin trabalhava, com um custo de 27 mil dólares (pagos com cartões de crédito, uns trocados guardados e a venda de uma coleção de revistas em quadrinhos), o filme conquistou uma horda de fãs e ganhou vários prêmios pelo mundo. Kevin recuperou a grana investida, a coleção de quadrinhos e ganhou um enorme prestígio pra rodar seus futuros projetos. E eis que agora, ganhamos de presente O Balconista 2.

Um ponto forte em todos os filmes de Kevin Smith é a enorme reverência à cultura pop (Star Wars, por exemplo, é hilariamente citado em todos eles). Mas com O Balconista 2, isso foi levado ao extremo.

Bom, antes de entrar nesse assunto, vou pular pra uma outra história, passada na vida real: Tasha é uma adolescente de Israel que resolveu fazer um video caseiro com sua irmã gêmea. Da maneira mais despretendiosa do universo as duas dublaram a canção Hey, do Pixies, e depois botaram no You Tube. Bem... o videozinho ficou tão bacana que virou uma febre na internet. Pra você ter uma idéia, ele já foi sido visto por mais ou menos 8.500.000 pessoas ao redor do mundo. Pra conferir é só dar play aí embaixo (e cantar junto):



Pronto, voltando ao Kevin Smith e à maneira como ele vem divulgando O Balconista 2, o cara teve uma sacada de mestre. Botar simplesmente um trailer do filme no You Tube não seria lá muito inteligente. Trailer se vê em qualquer lugar e os downloads não chegariam aos pés das nossas amigas indiandas indie. Foi aí que ele resolveu botar um video parodiando as garotas (que viraram ícone deste universo You-Tubesco). Bom, o resultado é melhor ver (e morrer de rir) clicando no play:



Opa! Não acabou aí. O gordinho nerd ainda teve a brilhante idéia de usar o site de vídeos pra fazer uma promoção. Ele disponibilizou a música tema do filme pra download pra que o público criasse seu próprio video caseiro na web. O melhor entra no DVD de O Balconista 2.

E se você pensa que parou aí, ledo engano. Kevin Smith ainda gravou um áudio comentando o filme (destes que a gente encontra em DVDs), pra galera baixar no iTunes e assistir ao filme no cinema ouvindo o comentário do diretor em seus iPods. A idéa só não foi bem vista pelos donos dos cinemas, com medo de que as pessoas rissem das cenas comentadas enquanto o resto da platéia ficasse boiando, apenas vendo o filme.

Como vocês podem ver, as idéias são completamente nerd. Mas convenhamos, Kevin Smith é um nerd muito legal.

18 agosto 2006

[TV] Enquanto Lost não vem...

A caçada já começou! Se você também está órfão de Lost, como eu, esperando o primeiro episódio da terceira temporada cair na rede pra baixar, prepare-se: tem muito com o que se distrair até lá. Se você ainda está seguindo a série no AXN, pode ficar tranqüilo, nada aqui vai atrapalhar suas surpresas. Se só viu a primeira temporada na Globo ou em DVD, PARE AGORA! Agora, se você não faz idéia do que tô falando, bem...

O fato é que enquanto a série não volta, você pode se divertir com Lost Experience. Uma espécie de jogo-caça-tesouro que está rolando em alguns países do mundo. Mas como a internet tá em todos os lugares, dá pra brincar por aqui também.

A última vez que escrevi aqui sobre Lost Experience, falei sobre o site da Hanso Foundation, muita água já rolou. Recentemente a Hanso deixou um recado no site avisando que haviam sido invadidos por hackers (nossa conhecida Persephone, claro) e, por isso, desativaram temporariamente as páginas.

Eis que Persephone não parou aí. Não precisei pesquisar muito na web pra descobrir que Persephone é o codinome de Rachel Blake. E bastaram alguns minutos no Google pra achar o blog de viagens da Rachel. Acontece que, no último post, a garota publicou um símbolo estranho com um código alfanumérico embaixo. Foi só clicar ali pra que um mundo de mistério se abrisse bem diante dos meus olhos.

Você cai no site Hanso Exposed, criado por Rachel. É aí que você fica sabendo que ela tem em mãos um video que vai desmascarar de vez a Hanso Foundation, provando seus podres. Mas claro, a garota não pode publicá-lo assim, na íntegra. Por isso ela quebrou o video em 70 fragmentos que estão espalhados pela web. Pra encontrar cada fragmento, você precisa digitar os tais códigos na página.

"E em que raios de lugar eu acho os códigos?" - você se pergunta. Senta que agora começa a parte legal. Simplesmente em QUALQUER LUGAR. Estes símbolos estão espalhados pelo mundo. Tem encartado em revistas, em placas de rua, silkado em camisetas, escondido em sites pela web... Tem símbolo que já foi encontrado até em porta de banheiro público na Austrália e em reflexo de lata de Sprite num comercial de TV! Nem precisa dizer que isso virou uma febre na internet com pessoas dos quatro cantos do mundo divulgando como troféus os símbolos encontrados. E pode ter certeza de que, num post não muito distante, vou publicar todos eles aqui.

Desse jeito a espera por Lost não vai doer nadinha. Já consegui achar 41 dos 70 fragmentos. E agora há pouco, um camarada-também-fanático-por-Lost indicou um vídeo com 39 dos fragmentos montados numa ordem que me pareceu bem OK.



Claro, tá faltando praticamente metade, mas já dá pra se ter um gostinho de mistério quase revelado.

11 agosto 2006

[DVD] É de prender na cadeira

Ainda dá tempo! A segunda parte da primeira temporada de Prison Break estréia dia 21 de agosto na Fox. É só Jack Bauer acabar de salvar o mundo mais uma vez que Scofield entra em cena. Tá perdido feito um condenado no corredor da morte? Eu explico.

Prison Break é mais uma série-hit da Fox norte-americana. Começou só com 10 episódios (o piloto e mais 9), que a Fox tupiniquim já exibiu. O sucesso foi tanto lá fora, que resolveram completar a temporada com os 12 episódios restantes. É justamente esse restinho que faltava passar aqui no Brasil.

Então, se você ainda não viu a primeira parte na TV e não tem paciência pra reprises picotadas por comerciais infinitos de Table Mate, AB King Pro, Flat Hose e Slim Control, tá na hora de dar uma escapadinha até a locadora (ou site de download) mais próxima! Sim, lançaram um box no Brasil só com os tais 10 primeiros episódios!

O personagem principal é Michael Scofield (Wentworth Miller), um cara desesperado que precisa salvar seu irmão, Lincoln Burrows (Dominic Purcell), que foi condenado por um assassinato que não cometeu. Lincoln está há poucos meses de ser executado na cadeira elétrica. Michael então arma um plano megacomplexo. Ele tatua a planta da cadeia e todos os detalhes do plano em seu corpo e assalta um banco para que seja preso na mesma penitenciária do irmão.

O bacana é que a série não se prende unicamente à fuga de uma penitenciária de segurança máxima. Todos os personagens estão presos e condenados, nem que seja metaforicamente. Isso porquea série é um caldeirão de fórmulas de sucesso. Tem lá um casal de advogados que corre perigo ao tentar provar a inocência de Lincoln. Tem os homens-poderosos-do-mal que matam todo mundo que chegue perto de desvendar o grande mistério por trás da trama. Tem o diretor da prisão de segurança máxima que, contrariando todos os clichês, é gente boa. E não me peçam pra dizer quem é o vilão principal. Quando você descobrir, lá pelo episódio 8, com certeza vai gritar algo parecido com "?!#&*#!!$@!", como eu fiz.

Prison Break é deliciosamente desesperador e já virou uma das minhas muitas séries preferidas. Se você está na pilha de ficar com os olhos presos na TV, taí uma boa dica.

09 agosto 2006

[CINE] Se o 1 não era bom, o 2 já é demais

Podem falar o que for. Que a ação é espetacular, que os efeitos especiais são pra lá de primeira, que Johnny Depp dá um show interpretando Jack Sparrow, que este é o retorno dos filmes de pirata. Podem falar tudo isso. E tudo isso é a mais pura verdade. Mas mesmo assim Piratas do Caribe: O baú da morte está longe de ser o melhor filme pipoca que você já viu.

A impressão que se tem é a de que, ao filmarem duas seqüências ao mesmo tempo (sim, filmaram o 2 e o 3 juntos, aguarde), resolveram gastar nos efeitos especiais e na criação de monstros marinhos e seres fantásticos, todas aqueles milhões economizados. Dou o braço a torcer de que fizeram isso extremamente bem. Se você quiser ver uma lula gigante engolir navios váaaarias vezes, como se fosse algo real, não perca esse filme. Mas não espere muito além disso. Depois do primeiro impacto, a ação toda cansa. São muitos momentos de clímax pra um filme só. Depois de duas horas e meia no cinema, você só quer ver logo o final daquela balela toda. E o final não vem. Ou melhor, vem. Só em julho de 2007.

Pra um Senhor dos Anéis isso funciona. A trilogia tem um roteiro amarrado. É uma só história que precisa das outras partes (e dos efeitos especiais) pra ser contada. O que acontece em Piratas do Caribe é o contrário. Tem-se um grande portfólio de cenas de ação mirabolantes e de cair o queixo. E dá-se um jeito de enfiar uma história pra permear esse circo de computação gráfica todo. O resultado é a certeza de que um bom filme de piratas precisa de um final. A mitologia, apesar de boa, não é tão forte assim pra que as pessoas aguardem meses por um desfecho.

Olha só isso: O filme começa quando impedem o casamento de Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley, com uma interpretação de dar dó). Numa das desculpas mais esfarrapadas da história do cinema, os dois correm os sete mares atrás de Jack Sparrow. Só que o pirata só pensa em encontrar um tal baú da morte que guarda o coração (literalmente) do homem-monstro-marinho Davy Jones (Bill Night), que vaga pelos oceanos desde o dia em que trancou seu coração (é isso mesmo) neste baú. Tudo culpa de um amor mal resolvido (ninguém merece).

Bem... O filme acaba e o que sobra é a sensação de que um pirata roubou de você um tempo precioso e o dinheiro da entrada do cinema.

03 agosto 2006

[CINE] Mais um pra viagem

Se existe um estilo de filme que não muda nada com o tempo, este é o road movie norte-americano (e na carona, os road movies argentinos, brasileiros, croatas, finlandeses...). Estes filmes de estrada seguem sempre a mesma trilha: dois ou mais personagens têm algum conflito interno e entre si. Estas divergências vão se resolvendo à medida em que enfrentam juntos as dificuldades que aparecem pelo caminho. Reconhece a trama? É a eterna metáfora do caminho que cada um percorre pra se atingir um objetivo na vida.

Transamérica não é diferente. Não neste sentido. Se todo road movie tem a mesma fórmula, alguma coisa tem de existir pra separar os bons dos ruins. Este filme do roteirista e diretor estrante Duncan Tucker concorreu a dois Oscar, mas merecia mais indicações.

A motorista da vez é Bree, uma transexual bem resolvida que está na véspera de realizar a tão sonhada operação de mudança de sexo e transformar-se definitivamente na mulher que sempre desejou ser. Acontece que ela descobre ter um filho adolescente do outro lado do país, que precisa de ajuda pra sair da cadeia. Bree voa para Nova York, se apresenta como uma missionária cristã e inicia uma longa viagem de volta à Califórnia, enrolando assim uma imensa bola de mentiras pra que o filho não descubra que aquela mulher recatada na verdade é o pai que ele sonha conhecer um dia.

Só isso já faz com que todos os clichés, quando não caem por terra, tenham um colorido diferente. O sofrimento de Bree não é tratado com a piedade de costume. O filme não cai na comédia fácil nem escorre para o drama padrão. Ele não julga conceitos de família ou de sexualidade. Transamérica se equilibra entre os opostos, assim como os personagens que vão surgindo na tela.

Grande parte disso é graças a atuação fenomenal de Felicity Huffman (Desperate Housewives). Ela dá um show como Bree. De muito longe foi a melhor performance entre as indicadas ao Oscar deste ano, apesar de não ter levado a estatueta.

Transamérica é a prova de que um gênero tão batido ainda pode resultar em algo de qualidade. O trans do título vai muito além da transexualidade. Ele também significa a transformação constante que todos sofremos em cada acontecimento da vida. E esse é o conceito principal de um bom filme de estrada.

28 julho 2006

[CINE] Os nerds nunca foram tão cool

O filme nem saiu aqui no Brasil e, lá fora, deixou no chinelo filmes como Kill Bill Vol. 2, O Homem Aranha 2, Ray e Os Incríveis ganhando o prêmio de melhor filme do MTV Movie Awards de 2005. E é bem provável que você nem tenha ouvido falar dele. Imagine se Spike Jonze (de Quero Ser John Malkovitch) dirigisse um filme pra adolescentes roteirizado por Charlie Kaufman (de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança). Essa mistura seria bem próxima de Napoleon Dynamite.

De cara deixo dois avisos:
1-É extremamente difícil encontrar esse filme por aqui. Mas nada que as maravilhas do download na internet não resolvam.
2-Vai ser mais difícil ainda achar alguém mais esquisito que Napoleon. Imagine um adolescente nerd ao extremo chamado Napoleon (John Heder). Ele tem um seguro contra abdução de OVNIs, seu bichinho de estimação é uma Lhama com problemas psicológicos, gosta de desenhar animais mutantes e mora com uma avó fanática por corridas de quadriciclos. Ele tem um irmão de 32 anos com fixação por artes marciais, viciado em chats na internet e que vende Tupperware pra conseguir grana pra comprar uma máquina do tempo. Quer mais?

Esse absurdo cativante é criação de Jared Hess e sua esposa Jerusha Hess. Jared é um ex-assistente de câmera que estréia (e muito bem) sua vida de diretor com Napoleon Dynamite. Jesusha é quem desembolsou os US$400 mil gastos pra rodar o filme. Bastou Napoleon Dynamite aparecer no Festival de Sundance pra que a Fox Searchlight comprasse o filme e o distribuísse num número reduzidíssimo de salas. Talvez isso tenha ajudado o filme a ter virado essa coqueluche do cinema-underground-norte-americano que virou, rendendo U$40 milhões em bilheteria e inaugurando um incalculável número de fã-clubes por toda parte.

É bem provável que, se lançado no Brasil, Napoleon Dynamite não se torne um grande sucesso como nos EUA. O filme é uma grande mistura de referências culturais pop estadunidenses dos anos 80 e, em alguns momentos, a piada é tão regional que nem nos tocamos de que aquilo é uma piada. Mas pra nossa geração, que cresceu vendo filmes teen na Sessão da Tarde, isso tudo pode soar bastante familiar, o que torna a identificação quase que imediata. O filme se passa nos dias atuais, mas as referências retrô estão em cada cena, assim como na trilha sonora que mistura White Stripes com We´re Going to be Friends, Cindy Lauper com Time after Time e (pasmem) Alphaville com Forever Young.

A mania que Napoleon Dynamite se tornou nos EUA foi tão grande que, mesmo antes de sair em DVD, o filme ganhou cenas extras no cinema. O casal de roteiristas escreveu um epílogo mostrando o futuro dos personagens que vale o ingresso. É a volta dos nerds, só que dessa vez bem mais engraçada e pop. E que Napoleon chegue logo por aqui!

17 julho 2006

[CINE] Ele voltou mesmo!

Antes de um ótimo filme Superman - O Retorno é uma belíssima homenagem e um grande presente para os fãs do último filho de Krypton. Bryan Singer, além de dirigir, respeitou a memória coletiva que todos temos desse super herói.

Na trama, o Super-Homem volta à Terra depois de uma ausência de cinco anos e encontra tudo mudado. Lois Lane está casada, tem um filho, e está prestes a ganhar um Pulitzer por sua matéria "Porque o mundo não precisa do Super-Homem". Nesse meio tempo Lex Luthor sai da prisão e dá início a mais um plano pra se tornar o homem mais poderoso do mundo.

"O Retorno" do título não se refere só à volta Super-Homem à Terra e aos cinemas. É também sobre toda a estética que fez de Superman: o Filme, de 1978, o que ele é até hoje. Está tudo ali, do figurino à trilha sonora, até o cabelinho-pega-rapaz caindo na testa do Super-Homem. As modenizações foram feitas na medida. O roteiro de Dan Harris e Michael Dougherty não contradiz quase nada do que já foi feito e respeita até aqueles mais novos que conheceram estão conhecendo o Super agora, na série Smallville (a responsável por trazer à tona o personagem que já andava meio esquecido).

Mas quem espera um filme cheio de pancadaria e lutas grandiosas com vilões megapoderosos à la X-Men ou Homem-Aranha pode se decepcionar um pouco. Superman - O Retorno é mais adulto e menos raso. As cenas de salvação enchem os olhos e são sim uma verdadeira montanha-russa, mas restringem-se ao salvamento de pessoas. Os grandes duelos estão em um outro patamar. Temos o duelo que o herói trava consigo mesmo tendo de assumir as perdas por sua ausência tão longa. Temos também a luta entre a inteligência de Lex Luthor contra os músculos do Super-Homem. A batalha mora no drama pessoal de cada personagem.

A escolha do elenco é uma vitória à parte. Brandon Routh (o novo Super-Homem) tem um talento enorme (e não confunda com aquele que, segundo o boato na web, precisaram diminuir digitalmente sob a roupa colada). Kate Bosworth, ao contrário de tantas críticas negativas, até que segura bem a onda. Já Kevin Spacey como Lex Luthor, pra variar, dispensa qualquer elogio.

Pra quem ainda está relutante em ver o filme, convenhamos, fazer um filme que fala de um alienígena superpoderoso que veste um colant azul e cueca vermelha por cima da calça em pleno século XXI e ainda assim é dramático, real e emocionante não é tarefa pra qualquer um. E Bryan Singer conseguiu brilhantemente.
Valeu, Bryan!

12 julho 2006

[DVD] Sai Neo. Entra Amanda.

Você sabia que se conectarmos nosso cérebro a um computador e um scanner e olharmos para um objeto e depois fecharmos os olhos e só imaginarmos o mesmo objeto, o scanner vai mostrar que as áreas ativadas do cérebro são exatamente as mesmas? O cérebro não sabe a diferença entre o que vê e o que se lembra. E aí vem a pergunta: então o que é realidade?

É com questões assim que você vai se deparar ao assistir ao documentário Quem Somos Nós? (What the BLEEP Do We Know!?). O filme reúne 14 pensadores, entre cientistas, químicos, teólogos e físicos e navega entre várias linhas de pensamento, todas com o mesmo ponto de partida: a física quântica.

Se "física quântica" já deu aquele arrepio na espinha, calma. Quem Somos Nós? consegue deixar esse tema bem fácil de engolir abusando na computação gráfica e mostrando exemplos do cotidiano da decifiente auditiva Amanda (Marlee Matlin, da série The West Wing).

O problema aqui é o exagero desse recurso. O filme podia ter metade das vinhetas e animações cortadas. As entrevistas com os especialistas com um mínimo de ajuda visual conseguiriam dar conta do recado. Sem contar que a encenação da historinha de Amanda lembra aqueles filmes-eróticos-peito-pentelho das madrugadas da Band.

E a falta de um contraponto às opiniões dos cientistas faz com que o filme, em certos momentos, se pareça com um video de auto-ajuda. Mas apesar tudo isso, Quem Somos Nós? ainda consegue dar um grande passo ao levar os complexos conceitos da física quântica ao espectador comum.

Ah, e se você procurar bem, já pode encontrar uma versão extendida chamada What the BLEEP?! - Down the Rabbit Hole que vai mais fundo nos conceitos e corta radicalmente a balela visual, deixando só o necessário pra que o blábláblá científico desça redondo. Vale a pena. Agora, se você só conseguir encontrar a versão standard, não deixe de passar pelos Extras. Lá tem as entrevistas com todos os especialistas, longe da Amanda. Beeeem interessante.