28 setembro 2006

[CINE] Um doce duro de roer

A primeira coisa que você precisa fazer sobre Menina má.com (Hard Candy) é esquecer seu título em português. Ele passa uma impressão errada e depreciativa sobre o filme. A segunda coisa é saber que, quanto menos você souber sobre a trama, melhor. Este filme dirigido pelo novato David Slade tem o poder de superar qualquer expectativa. Basta o cartaz pra aguçar a curiosidade: uma referência clara à Chapeuzinho Vermelho servindo de isca em uma armadilha para o Lobo Mau. Precisa mais?

Menina má conta a história de Hayley (Ellen Page), uma linda garotinha de 14 anos e Jeff (Patrick Wilson), um fotógrafo bonitão e bem sucedido. Eles se conhecem numa sala de bate-papo na internet e decidem se encontrar . Não demora muito pra que os dois estejam sozinhos na casa de Jeff. Até aí, nada de mais. Uma típica historinha de pedófilo bonitão seduzindo garotinha sexy menor de idade. Mas de repente tudo muda e os papéis se invertem bizarramente. Está armado o circo mais tenso e sádico dos últimos tempos.

O plano de Hayley vai tomando proporções tão inusitadas e a tensão aumenta de tal forma que o roteiro chega a extrapolar o limite da veracidade. Mas a atuação magnífica de Ellen Page (que também roubou a cena no último X-Men, como Kitty Pryde) segura a onda de tal forma que qualquer buraco no roteiro é facilmente perdoado e aceito. O que vale é saber como tudo aquilo vai acabar. E rápido! Porque é impossível saber até o último momento se realmente trata-se de um pedófilo sendo punido ou se a garota é uma psicótica mirim, tal seu grau de frieza e sadismo. Portanto, prepare-se para alguns dos momentos mais tensos que você já viveu no cinema. E se você é homem, respire fundo porque Menina má.com não é só tenso. Dói.

27 setembro 2006

[CINE] O diabo merecia algo melhor

O que esperar de um filme sobre o ultra-mega-hype-mundinho-fashion que tem o roteiro e a trilha sonora mais bregas dos últimos tempos? Tirando a atuação excepcional de Meryl Streep, o figurino editorial de Patrícia Field (Sex and the City) e meia dúzia de ótimas piadas, não muita coisa.

Este pecado cinematográfico tem nome: O Diabo Veste Prada. O filme é baseado na história de Lauren Weisberg, ex-assistente de Anna Wintour, a mulher mais poderosa e influente do universo da moda e chefe suprema da revista Vogue americana. Lauren resolveu, sem citar nomes, botar a boca no trombone sobre os podres do universo da moda. Daí nasceu o livro. Só que no filme, a cínica Lauren é a sem sal Andy Sachs (Anne Hathaway) e a rainha-bitch-Wintour se transforma na ainda supermalvada Miranda Priestly (Meryl Streep). Mas conseguiram dar um jeito de adocicar a personagem no final. Deprimente.

O grande problema com a adaptação pra telona de O Diabo Veste Prada é seu maniqueísmo exagerado. Parece que entre tantos Dior, Chanel, Jimmy Choo e Dolce & Gabbana ninguém reparou que separar o mundo entre pobres bonzinhos e ricos malvados já saiu de moda há décadas. Nem os Teletubbies são tão ingênuos. A pobre Andy chega na cidade grande em busca de um emprego e cai nas garras da megera editora da revista Runaway. E o maior pecado que ela comete é começar a se vestir (muito) bem. As discussões com seus amigos e namorado sobre "a pessoa que ela deixou de ser" são de uma falta de bom senso impressionante.

No fim das contas você fica se perguntando quem é o tal diabo. A megera que se dedica 100% ao seu trabalho ou o bando de amigos e o namorado bocó que não deixam Andy seguir sua vida e fazer suas próprias escolhas. Pelo menos você pode fazer a sua: se estiver na pilha de assistir a um impressionante desfile da alta costura e uma atuação excepcional de Meryl Streep, vá em frente sem medo. Mas lembre-se que, neste filme, qualquer coisa além disso não tem mais salvação.

23 setembro 2006

[CINE] Tem pra todo mundo

As camisas de gola rulê estão em polvorosa por sair da gaveta. Os óculos de aro grosso já estão brilhando pra não perder um só segundo. E as boinas e os cachecóis não estão nem aí pro calor.

O motivo desse frisson todo? O Festival do Rio 2006 que começou ontem. Um deleite para todas as tribos e estereótipos. E até para gente como a gente, que adora um bom cinema. São mais de 350 filmes de 60 países. A maior parte destes filmes não vai passar nem perto de ser lançada no circuito comercial e dificilmente dará as caras em DVD por aqui. Ou seja: é assistir agora ou correr atrás de download depois.

Como é muito filme pra um post só (e pra que um pobre mortal trabalhador no horário comercial conseguir ver), vou fazer aqui uma listinha prévia dos meus primeiros 5 imperdíveis. Cada dia incluo mais alguns e comento os que já vi, ok?

1 - A Scanner Darkly: Esse filme de animação baseado em um conto de Philip K. Dick e dirigido por Richard Linklater utiliza a técnica de rotoscopia digital (animação sobre cenas filmadas). O diretor havia usado esta técnica em seu Waking Life, de 2001 e agora volta com Keanu Reeves encabeçando o elenco. Já vale só pelo visual.
Mostra: Panorama - 23/09: 13h 24/09: 16h30, 21h30 26/09: 18h45

2 - Dália Negra: Baseado no best-seller de James Ellroy, Dália Negra é o novo filme de Brian De Palma e traz Scarlet Johansson (Match Point) e Hilary Swank no elenco. Exibido pela primeira vez no Festval de Veneza de 2006, o filme conta uma história de um crime real que chocou os EUA em 1947.
Mostra: Panorama - 23/09: 24h 24/09: 16h30, 21h30 25/09: 14h, 19 27/09: 16h30, 21h30

3 - Daft Punk's Electroma: O grande frisson desse filme está na volta da dupla francesa de música eletrônica Daft Punk aos cinemas. Depois da odisséia musical que se imortalizou na animação Interstela 5555, dessa vez a dupla conta a história de dois robôs em sua busca por se tornarem humanos. Detalhe: o filme todo não tem falas e a trilha não tem uma só canção do Daft Punk. Mal posso esperar.
Mostra: Midnight Movies - 28/09: 23h45 01/10: 19h, 22h

4 - Red Road: Este é o primeiro filme de um projeto chamado Advance Party, da produtora de Lars Von Trier. O lance é três diretores diferentes desenvolverem roteiros com os mesmos personagens. Daí nasceu Red Road, que conta a história de um segurança que vigia as ruas através de câmeras até que decide seguir um homem com elas. Ganhador do prêmio do juri no Festival de Cannes 2006.
Mostra: Expectativa - 02/10: 13h, 19h45 04/10: 16h30, 21h30

5 - O Planeta das Mulheres Invasoras: Este filme mexicano de 1956 (pra lá de trash) é uma continuação de Gigantes Planetários. Nele, um grupo de amigos entra em um disco voador em um parque de diversões achando tratar-se de um brinquedo. Mas era uma nave real que os leva para o planeta Sibilia. Os Sibilanos querem invadir a Terra, mas antes precisam transplantar órgãos humanos para adaptar seus pulmões à nossa atmosfera.
Mostra: Sci-fi Mex - 26/09 24h 30/09: 17h 01/10: 21h15 02/10: 19h

19 setembro 2006

[TV] Mais Lost que nunca

Antes de continuar, um aviso: este post é pra aficcionados pela série Lost. Se você ainda não viu a segunda temporada completa no AXN (ou baixada na internet) ou não quer saber patavina de descobertas importantes, NÃO SIGA EM FRENTE. Tem um menu lateral aí cheio de opções de outros posts.

Agora, se você não agüenta um mistério, saca só o que já tá rolando na net. É que no último post que escrevi sobre Lost, prometi que voltaria com os códigos pra se montar o vídeo completo que a hacker Rachel Blake disponibilizou na web em 70 fragmentos codificados. O tal vídeo desmascaria Alvar Hanso e sua fundação. Bem, ele já está completo! Respire fundo e veja por si mesmo:



Em poucas linhas, o vídeo mostra que em 1962 um matemático contratado da ONU conseguiu passar para uma equação numérica as variáveis que dizem quanto tempo temos de vida na Terra até nossa extinção, levando em consideração as guerras, doenças, etc. A tal chamada Equação de Valenzetti, que tem como fatores fundamentais os números: 4, 8, 15, 16, 23 e 42 (olha os números malditos aí, gente!). Foi assim que a Hanso Foudation criou a Iniciativa Dharma (Department of Heuristics And Research on Material Applications) para tentar prolongar ao máximo nossa estadia na Terra. Só que os meios de se conseguir isso não são nada amigáveis...

Se você ainda não está entendendo lhufas, veja os posts relacionados:
27/04 - E por falar em Lost...
10/05 - Desvendando mistérios por aí
18/08 - Enquanto Lost Não Vem...

E que venha a terceira temporada!

18 setembro 2006

[CINE] Terror em plena forma

Prepare-se para sentir pavor e fechar os olhos no cinema. Há um bom tempo que não se fazia um filme de terror tão apavorante como O Abismo do Medo (The Descent).

Esse filme indepentende britânico, dirigido por Neil Marshall, é um verdadeiro oasis no meio de tanta banalidade que se tem criado em torno do gênero. Ao mesmo tempo em Neil que foge dos clichês, ele aplica com inteligência e sutileza muitas referências de clássicos do terror, como O Iluminado do mestre Stanley Kubrick. E não pára por aí. Até no pôster do filme você encontra referências, como a obra Voluptate Mors de Salvador Dali.

A trama, apesar de alguns furos que não atrapalham em nada, tem seus pontos fortes. Aquele típico grupinho americanóide formado por brutamontes sarados e garotas peitudas, por exemplo, fica de fora. Em O Abismo do Medo, quem passa por apuros é um grupo de seis amigas apaixonadas por esportes radicais que parte para uma expedição em uma caverna nos montes Apalaches, nos EUA. O problema é que elas ficam presas nessa caverna e precisam se embrenhar cada vez mais fundo por túneis minúsculos e salões pra lá de clautrofóbicos pra tentar encontrar outra saída. Até que elas descobrem que não estão sozinhas. O filme tem sido comparado a Alien: O Oitavo Passageiro. Eu não chegaria a tanto, mas com certeza O Abismo do Medo está anos luz a frente de qualquer coisa que se tenha feito nos últimos anos.

Pra ter uma idéia, chega uma hora em que você se vê num dilema entre enfrentar o resto do filme com as mãos nos olhos e rezando pra que acabe logo aquele sufoco ou sair da sala sem saber como tudo acaba. Só posso dizer uma coisa: agüente firme. O final vale muito a pena. Mais uma prova de que ainda existe vida inteligente do lado de lá da tela quando o assunto é fazer um filme de dar medo. De verdade.

15 setembro 2006

[DVD] Só faltaram os trilhos

Tem filme que você vê claramente que alguém teve uma idéia genial pro final, com várias reviravoltas e surpresas realmente bacanas. É o caso de Fora de Rumo (Derailed), suspense de estréia do diretor sueco Mikael Håfström. Só tem um problema: ninguém teve neurônios suficientes pra bolar um meio decente de se chegar nesse final.

No filme, Charlie Schine (Clive Owen) é um publicitário casado que conhece a atraente e também casada Lucinda Harris (Jeniffer Aniston quase conseguindo não ser Rachel Green, sua personagem eterna em Friends). Nem precisa dizer que os dois se sentem atraídos e, quando resolvem oficializar a pulada de cerca num hotelzinho barato, acontece algo que muda radicalmente o rumo da trama (sacou o nome do filme?).

Só que ao mudar de rumo, a história saiu do trilho. Tudo começa a ficar muuuito forçado. Não dá pra acreditar nas ações dos personagens. Não existe razão alguma pra eles fazerem o que fazem. E os personagens secundários? Eles deveriam dar suporte emocional à trama, mas o filme acaba e você nem lembra que eles estavam ali. Por essas e outras que, já quase no final do DVD, você fica imaginando se não estaria passando alguma reprise do Brasileirão na TV (ou qualquer outro programa menos previsível). E eis que chegamos ao tal final bacana. Tudo muda, você se surpreende. Aquele Fluminense x Vasco pode esperar mais alguns minutos. E de repente, acaba.

Agora vem a pergunta: precisamos disso? Filme bom tem que, pelo menos, fazer sentido. Fora de Rumo é mais uma prova de que história que só tem começo e fim, descarrila lá no meio.

13 setembro 2006

[CINE] Esse indiano sabe nadar

Há quem diga que o roteirista e diretor indiano M. Night Shyamalan seja um grande farsante. Desde que estourou com o sucesso de O Sexto Sentido, ele vem criando uma série de filmes-não-conte-o-final que nunca conseguem superar sua obra-prima. Mas o engraçado é que, por mais que se fale mal de seus outros filmes, é quase impossível não correr pra conferir o mais recente nos cinemas.

Eis que estréia A Dama na Água. Já li e ouvi de tudo sobre o filme. Que é o pior de Shyamalan, que é o mais divertido, que é o mais diferente (este surpreendentemente não tem final surpreendente). É fato que o indiano sempre derrapa em algum momento da trama. Quer coisa mais desnecessária que aquele ET tosco aparecer no final de Sinais, por exemplo?

Mas também é fato que pouquíssimos diretores têm tamanha capacidade na construção de imagens. Os enquadramentos são milimetricamente calculados pra transmitir o clima certo de cada cena. Shyamalan consegue trazer para o mundo real, as balelas mais estapafúrdias que se possa imaginar. E tudo fica absolutamente crível.

Na trama de A Dama na Água, o zelador de um hotel, Cleveland Heep (Paul Giamatti), descobre uma mulher misteriosa na piscina do prédio (Bryce Dallas Howard), e acredita tratar-se de uma ninfa de contos de fadas tentando voltar pra casa. Pra isso, ela precisa da ajuda de vários moradores do prédio. Uma clara referência à necessidade da união entre os povos para um objetivo comum. O problema é que isso já virou clichê e beira o bobo. Sem contar que essa mania de mostrar bichos esquisitos nunca foi legal. Mas no caso de A Dama, a história é tão bem conduzida que, em certo momento, você se pega achando absolutamente normal uma criança lendo uma profecia em caixas de cereal.

Talvez o verdadeiro problema de M. Night Shyamalan seja ter conseguido não derrapar nada em O Sexto Sentido. Seus filmes mais recentes podem ter vários pequenos problemas, mas de farsante, esse indiano não tem nada. Só falta ter um pouquinho mais de coragem pra fugir da fórmula que o consagrou.

10 setembro 2006

[DVD] Dois rápidos no gatilho

Mais uma segunda-feira-pós-feriadão (ai...). Hora de curar a ressaca e levantar a poeira. E pra isso um bom bangue-bangue cai muito bem! Pra quem não sabe, esse gênero nasceu lá no comecinho do século XX pra contar as histórias dos vaqueiros que, na época, invadiam o oeste selvagem dos EUA. Nem precisa dizer que foi um sucesso.

Só que tudo que bomba, um dia desbomba. E no decorrer dos anos 30, 40 e 50, o faroeste (que vem de far west, ou oeste longínquo) foi gradualmente perdendo o sentido até desaparecer das telas. Ele sumiu mas não morreu. Apenas deixou de ser um gênero pra se tornar material de referência. E dois ótimos exemplos dessa referência usada com inteligência, você encontra fácil nas locadoras.

O primeiro é Querida Wendy. Um filme que consegue ter o peso da assinatura de Lars Von Trier (de Dançando no Escuro e Dogma) sem ser um soco forte no estômago. É que dessa vez, Von Trier apenas escreveu o roteiro, deixando a direção para seu colega Thomas Vinterberg. No filme, Dick é um jovem pacifista que acaba fascinado por armas de fogo. Ele então cria um clube secreto formado por jovens fracassados que descobre nas armas uma arma potente pra levar adiante seus ideais de paz. Contraditório? O filme todo é. Em todos os aspectos. E mesmo assim ele une estas duas pontas opostas com tanta precisão e coerência (e usando muito do que aprendemos com os melhores filmes de bangue-bangue) que chega a dar medo.

O segundo é 800 Balas, do espanhol Alex de la Iglesia. O filme, cheio de referências do faroeste, é uma homenagem ao bangue-bangue à italiana dos anos 60 e 70. A história se passa em "Texas Hollywood", onde supostamente muitos desses westerns foram filmados no passado. O local se tornou uma espécie de museu ao ar livre e também o ganha-pão de um grupo de atores que mora ali, encenando momentos clássicos do faroeste para os turistas de passagem. O problema é que Texas Hollywood está prestes a ser demolida e os atores resolvem se rebelar e defender sua cidade. Mas tem um problema: eles só têm 800 balas. Quer coisa mais faroesteira que essa? Até duelo rola no filme. Diversão garantida.

E então? Qual você vai sacar primeiro da prateleira?