O livro
Reparação, (
Atonement) do inglês
Ian McEwan, é uma das melhores obras de ficção que já li. Resumidamente e sem entregar nada, tudo começa em um dia quente de verão de 1935, na casa de campo da aristocrática família Tallis. Uma seqüência de eventos mostra o amor entre a jovem Cecília Tallis e Robbie Turner, o filho da governanta. Porém, a mente criativa e confusamente pré-adolescente de Briony, irmã mais nova de Cecília, interpreta tudo o que vê de uma forma distorcida, e as conseqüências são catastróficas.

Deixando o enredo um pouco de lado, o que mais impressiona no livro, vencedor do Booker Prize, principal prêmio da literatura britânica, é a maneria com que
McEwan conta essa história. E é aqui que uma pulga pulou atrás da minha orelha ao saber que a adaptação para o cinema seria lançada.
Como levar pra uma cena de filme o mesmo impacto que teve um parágrafo escrito tão inspiradamente? O diretor
Joe Wright (
de Orgulho e Preconceito) também deve ter dormido com essa pulga. E conseguiu matá-la com a mais pura genialidade.
Dos cortes secos e inesperados, um plano-seqüencia tão poético que beira o surrealismo, à trilha sonora composta por sons de máquina de escrever, Wright contou a história longe de ser simploriamente literal ao livro. Não é só a história do livro que está nos cinemas com o nome de
Desejo e Reparação. Estão lá o clima, a tensão, o calor, o afobamento, a tristeza, a poesia e a loucura que se sente ao correr os olhos sobre as linhas de
McEwan. E sem copiá-los ou imitá-los. Não é à toa que
Ian McEwan está lá na cadeira de produtor executivo do filme dando sua bênção.
É linguagem de cinema pra cinema. E não cinema tentando imitar literatura. É aí que pecam muitos diretores que tentam reproduzir uma cópia fiel de um livro. Não dá pra comparar livro e filme, simplesmente porque cada um é um meio de se contar uma história e cada um tem sua maneira de fazê-lo. Felizmente
Joe Wright sabe disso.