21 janeiro 2008

[NEWS] Uma luz sobre o livro negro

Direto da Holanda, minha grande amiga, correspondente e Bailandesa, Clarissa Mattos, manda um post pipocando de quente:

Vivendo aqui na Holanda há um ano e meio, já vivi diversas situações inusitadas e tive várias surpresas. Ao saber da estréia de A Espiã - título ridículo em português para o Zwartboek (O Livro Negro) - tive que lembrar dessa boa surpresa que foi assistir à sua Première. Não foi a oficial, mas nem por isso menos especial. O filme foi apresentado pela primeira vez com uma audio-descrição para cegos. Ou seja, ao entrar na sala de exibição, recebemos um dispositivo com um fone, parecido com um radinho e, através dele, ouvimos a descrição do cenário, das expressões faciais e emoções dos personagens, além de tudo o que ocorre no filme entre os diálogos e que não é percebido pelas pessoas com limitações visuais.

Uma experiência e tanto. Em alguns momentos, tentei fechar os olhos e assistir o filme somente com a descrição. A sensação é de um livro em áudio e pude sentir que dá pra ter a real noção do que está acontecendo na tela. Vocês podem imaginar que para este público essa é uma chance única de ir normalmente ao cinema. No final, o produtor e o ator que emprestou a sua voz à narrativa estavam lá pra responder perguntas.

Ouvi depoimentos como: "Não vou ao cinema há 25 anos. Esta foi uma noite muito especial" ou "Esta é a primira vez que venho ao cinema e o meu marido não precisa descrever o que está acontecendo." Sem falar na platéia inusitada dos cães-guias que, com exceção de um que uma única vez expressou sua opinião durante a exibição, todos ficaram quietíssimos e concentrados.

Claro que existem melhorias a serem feitas, como as legendas, por exemplo. Neste filme, as legendas quando o alemão ou inglês eram falados não foram incluídas na audio-descrição. Também não é todo cinema que está equipado pra este tipo de exibição. Mas é um ótimo começo. Não só o DVD do Zwartboek, como outros já estão sendo lançados com essa opção.

Ah, o filme? Talvez não precisasse de duas horas e meia - não muito bem distribuidas, por sinal - mas vale o ingresso. Considero um bem produzido thriller de guerra que mostra, sem julgamentos, os sentimentos e atos - nem sempre louváveis - que surgem num momento de luta pela sobrevivência.

Mas isso, deixo para o nosso Pipoqueiro de plantão falar. Resta saber se, sem o devido título, aí no Brasil vão entender a importância do tal livro negro quando ele aparece. Não precisa ter visão de raio X para entender que o autor não escolhe um título por acaso.

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