Se existe um estilo de filme que não muda nada com o tempo, este é o road movie norte-americano (e na carona, os road movies argentinos, brasileiros, croatas, finlandeses...). Estes filmes de estrada seguem sempre a mesma trilha: dois ou mais personagens têm algum conflito interno e entre si. Estas divergências vão se resolvendo à medida em que enfrentam juntos as dificuldades que aparecem pelo caminho. Reconhece a trama? É a eterna metáfora do caminho que cada um percorre pra se atingir um objetivo na vida.
Transamérica não é diferente. Não neste sentido. Se todo road movie tem a mesma fórmula, alguma coisa tem de existir pra separar os bons dos ruins. Este filme do roteirista e diretor estrante Duncan Tucker concorreu a dois Oscar, mas merecia mais indicações.
A motorista da vez é Bree, uma transexual bem resolvida que está na véspera de realizar a tão sonhada operação de mudança de sexo e transformar-se definitivamente na mulher que sempre desejou ser. Acontece que ela descobre ter um filho adolescente do outro lado do país, que precisa de ajuda pra sair da cadeia. Bree voa para Nova York, se apresenta como uma missionária cristã e inicia uma longa viagem de volta à Califórnia, enrolando assim uma imensa bola de mentiras pra que o filho não descubra que aquela mulher recatada na verdade é o pai que ele sonha conhecer um dia.
Só isso já faz com que todos os clichés, quando não caem por terra, tenham um colorido diferente. O sofrimento de Bree não é tratado com a piedade de costume. O filme não cai na comédia fácil nem escorre para o drama padrão. Ele não julga conceitos de família ou de sexualidade. Transamérica se equilibra entre os opostos, assim como os personagens que vão surgindo na tela.
Grande parte disso é graças a atuação fenomenal de Felicity Huffman (Desperate Housewives). Ela dá um show como Bree. De muito longe foi a melhor performance entre as indicadas ao Oscar deste ano, apesar de não ter levado a estatueta.
Transamérica é a prova de que um gênero tão batido ainda pode resultar em algo de qualidade. O trans do título vai muito além da transexualidade. Ele também significa a transformação constante que todos sofremos em cada acontecimento da vida. E esse é o conceito principal de um bom filme de estrada.
2 comentários:
legal! me lembrou "Priscila" em alguma coisa... só não entendo porque não colocam atores (ou atrizes?) trans de verdade para estes papéis, eles são tão bons em shows etc... :)
Finalmente achei alguém que também viu esse filme, com quem eu posso comentar a respeito!!!xD
Eu também achei maravilhoso, um dos meus preferidos! Felicity está esplêndida na pele de Bree, parecem duas pessoas completamente diferentes! E ainda tem o Kevin Zegers pra enfeitar, haha..xD É um daqueles ótimos filmes que fazem rir e chorar ao mesmo tempo.
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