
Em Factotum (que acabou de esterar nos cinemas) Chinaski alimenta seu sonho de ser escritor enviando textos para a Black Sparrow Press (editora de Bukowski na vida real) enquanto muda de emprego e de mulher com a mesma freqüencia com que acende um cigarro.
Quem espera uma narrativa com começo, meio e fim e moral da história, esqueça Factotum. O filme é uma seqüência de acontecimentos que tinha tudo pra ser monótona. Mas a direção de Bent Hamer consegue captar aquele ritmo lento de autodestruição dos personagens sem ser chata, com cenas e diálogos tão diretos e econômicos que às vezes você esquece que os últmos 45 minutos de projeção são praticamente um looping de acontecimentos. E Matt Dillon finalmente se livra da carinha Barrados no Baile com uma interpretação de Chinaski digna de aplausos, assim como Jan (Lili Taylor) e Laura (Marisa Tomei). Difícil dizer qual das duas está melhor.
E pra quem está com a impressão de que já viu essa história antes, qualquer semelhança com o Arturo Bandini dos livros de Fante não é mera coincidência. Fante foi pupilo de Bukowski e algumas cenas de Factotum parecem ter sido literalmente copiadas pra dentro de Pergunte ao Pó. Praticamente um CtrlC-CtrlV literário. Com os dois em cartaz e tempo de sobra, pode ser uma boa comparar também na telona.