Woody Allen está na minha lista de diretores superestimados que levam crédito desmerecido por qualquer coisa que façam. Mas dessa vez, com "
Match Point", eu dou razão a essa raça de cinéfilos blasé com óculos de aro grosso e blusas com gola rolê. Este é um Woody Allen dos bons. É por filmes assim que o roteirista/ator/diretor de 71 anos mostra que ainda tem muito fôlego e capacidade de inovar.

A história de Chris Wilton (
Jonathan Rhys Meyers), um instrutor de tênis que se casa com a irmã do novo e milionário amigo, Tom Hewett (
Matthew Goode) e se apaixona por sua noiva Nola (
Scarlet Johansson), se passa em Londres, mas Allen captura a cidade com a mesma cumplicidade que olha para Nova York.
Seus diálogos mantêm aquela profundidade, leveza e imprevisibilidade que nos fazem passar do sorriso ao espanto e às gargalhadas em menos de sete palavras. Tudo muito bem amarrado, sem nenhuma cena desperdiçada.
O filme lembra “
Crimes e Pecados” de 89, mas o paralelo com o livro “
Crime e Castigo” de Dostoiévski é bastante claro. Só que Match Point (pra quem não sabe, o ponto que fecha o jogo de tênis) fecha a história onde Dostoiévski poderia terminar a dele, caso escrevesse seu livro hoje (claro que não vou falar sobre o final do livro aqui, né? Falar do Dostô foi meu momento cultural de hoje. Pronto, passou.).
E além de tudo isso, Scarlet Johansson mostra que pra ser a nova queridinha de Woody Allen (ela está em seu próximo filme, "
Scoop", também filmado em Londres) precisa ser bem mais que um rostinho sexy e bonito. A loirinha americana, em meio a várias atuações nota sete e meio do elenco inglês, arrebenta.
"Match Point" fala sobre a sorte e o azar, sobre aquele momento em que a bola de tênis bate na rede, sobe e pode cair de qualquer lado da quadra. E com esse filme, a bola de Woody marcou um ponto pra ele.