
No filme de DePalma, o policial Bucky Bleichaert (Josh Harnett) narra a história e conta como se tornou melhor amigo de seu colega Lee Blanchard (Aaron Eckhart) e Kay (Scarlett Johansson), a esposa-loira-fatal de Lee. Os dois policiais ganham aura de heróis ao lutarem boxe nas horas vagas com os codinomes Mr. Fire e Mr. Ice. Tudo são flores até que uma mulher é encontrada morta à beira de uma estrada, com a boca rasgada de orelha a orelha. Lee e Bucky são encarregados do caso. Nesse ponto Brian DePalma leva o espectador aos cantos mais escuros do submundo e apresenta a rica e devassa Madeleine Linscott (Hilary Swank). O personagem seria perfeito não fosse a surpreendente má atuação da oscarizada Hilary. Num ringue entre mulheres fatais, Scarlett ganharia no primeiro round.
Apesar da escorregada de escalação do elenco, o cuidado estético de Dália Negra é impecável. Está tudo ali: o clima, os contrastes, a sensação de perigo em cada mudança de cena. É praticamente um filme feito nos anos 40 à perfeição. E é aí que está o seu maior defeito: é praticamente um filme feito nos anos 40. O que chocava, o que surpreendia, o que emocionava naquela época já se perdeu há décadas.
Ao ver Dália Negra, não restam dúvidas quanto à genialidade da direção de Brian DePalma e não sobram parabéns à reconstituição perfeita de um gênero. Mas é tudo estético, plástico. Nossa mentalidade mudou. Nossas referências mudaram. Dália Negra pode encantar os olhos, mas não emociona.
Pro bate-papo no bar depois do cinema:
O termo film noir (do francês, filme preto) foi atribuído pela primeira vez a um filme pelo crítico francês Nino Frank em 1946. O termo era desconhecido dos diretores e atores enquanto eles criavam os noirs clássicos. Na verdade, eles nem tinham consciência de estarem criando um tipo distinto de filme. Noir só virou gênero muito depois, quando passou a ser usado por historiadores do cinema e críticos de cinema.