Mas eis que por uma felicidade do destino (e de uma outra sala de cinema lotada) acabei sem opção. Fui obrigado a seguir os passos de Anna de la Mesa (uma atuação de cair o queixo de Nina Kervel-Bey), uma garotinha de 9 anos, literalmente uma pequena burguesa, que vê seu universo de conto de fadas desmoronar. Isso acontece quando seus pais abandonam seus empregos, família, trocam de amigos e de casa pra militar a favor do comunismo no meio da efervescência política na França no início dos anos 70.A vida de Anna vira de ponta-cabeça. Sua nova casa, pequena e caindo aos pedaços, vive cheia de barbudos chilenos, suas babás passam a ser refugiadas em busca de abrigo e o único que parece se divertir com a história toda é seu irmãozinho mais novo, François (Benjamin Feuillet, mais fofo impossível).
O ponto de vista de Anna é levado a sério do início ao fim. Jullie Gavras (que também viveu sua infância num lar comunista) foge do maniqueísmo fácil. Ela leva sua Anna (e a todos que cruzam seu caminho, inclusive a platéia do cinema) a pensar de uma maneira diferente sobre os dois lados dessa moeda. No meio de tantas pré-definições entre capitalismo e comunismo, só mesmo um olhar curioso de criança pra enxergar algo que ainda ninguém parou pra ver.
