28 julho 2006

[CINE] Os nerds nunca foram tão cool

O filme nem saiu aqui no Brasil e, lá fora, deixou no chinelo filmes como Kill Bill Vol. 2, O Homem Aranha 2, Ray e Os Incríveis ganhando o prêmio de melhor filme do MTV Movie Awards de 2005. E é bem provável que você nem tenha ouvido falar dele. Imagine se Spike Jonze (de Quero Ser John Malkovitch) dirigisse um filme pra adolescentes roteirizado por Charlie Kaufman (de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança). Essa mistura seria bem próxima de Napoleon Dynamite.

De cara deixo dois avisos:
1-É extremamente difícil encontrar esse filme por aqui. Mas nada que as maravilhas do download na internet não resolvam.
2-Vai ser mais difícil ainda achar alguém mais esquisito que Napoleon. Imagine um adolescente nerd ao extremo chamado Napoleon (John Heder). Ele tem um seguro contra abdução de OVNIs, seu bichinho de estimação é uma Lhama com problemas psicológicos, gosta de desenhar animais mutantes e mora com uma avó fanática por corridas de quadriciclos. Ele tem um irmão de 32 anos com fixação por artes marciais, viciado em chats na internet e que vende Tupperware pra conseguir grana pra comprar uma máquina do tempo. Quer mais?

Esse absurdo cativante é criação de Jared Hess e sua esposa Jerusha Hess. Jared é um ex-assistente de câmera que estréia (e muito bem) sua vida de diretor com Napoleon Dynamite. Jesusha é quem desembolsou os US$400 mil gastos pra rodar o filme. Bastou Napoleon Dynamite aparecer no Festival de Sundance pra que a Fox Searchlight comprasse o filme e o distribuísse num número reduzidíssimo de salas. Talvez isso tenha ajudado o filme a ter virado essa coqueluche do cinema-underground-norte-americano que virou, rendendo U$40 milhões em bilheteria e inaugurando um incalculável número de fã-clubes por toda parte.

É bem provável que, se lançado no Brasil, Napoleon Dynamite não se torne um grande sucesso como nos EUA. O filme é uma grande mistura de referências culturais pop estadunidenses dos anos 80 e, em alguns momentos, a piada é tão regional que nem nos tocamos de que aquilo é uma piada. Mas pra nossa geração, que cresceu vendo filmes teen na Sessão da Tarde, isso tudo pode soar bastante familiar, o que torna a identificação quase que imediata. O filme se passa nos dias atuais, mas as referências retrô estão em cada cena, assim como na trilha sonora que mistura White Stripes com We´re Going to be Friends, Cindy Lauper com Time after Time e (pasmem) Alphaville com Forever Young.

A mania que Napoleon Dynamite se tornou nos EUA foi tão grande que, mesmo antes de sair em DVD, o filme ganhou cenas extras no cinema. O casal de roteiristas escreveu um epílogo mostrando o futuro dos personagens que vale o ingresso. É a volta dos nerds, só que dessa vez bem mais engraçada e pop. E que Napoleon chegue logo por aqui!

17 julho 2006

[CINE] Ele voltou mesmo!

Antes de um ótimo filme Superman - O Retorno é uma belíssima homenagem e um grande presente para os fãs do último filho de Krypton. Bryan Singer, além de dirigir, respeitou a memória coletiva que todos temos desse super herói.

Na trama, o Super-Homem volta à Terra depois de uma ausência de cinco anos e encontra tudo mudado. Lois Lane está casada, tem um filho, e está prestes a ganhar um Pulitzer por sua matéria "Porque o mundo não precisa do Super-Homem". Nesse meio tempo Lex Luthor sai da prisão e dá início a mais um plano pra se tornar o homem mais poderoso do mundo.

"O Retorno" do título não se refere só à volta Super-Homem à Terra e aos cinemas. É também sobre toda a estética que fez de Superman: o Filme, de 1978, o que ele é até hoje. Está tudo ali, do figurino à trilha sonora, até o cabelinho-pega-rapaz caindo na testa do Super-Homem. As modenizações foram feitas na medida. O roteiro de Dan Harris e Michael Dougherty não contradiz quase nada do que já foi feito e respeita até aqueles mais novos que conheceram estão conhecendo o Super agora, na série Smallville (a responsável por trazer à tona o personagem que já andava meio esquecido).

Mas quem espera um filme cheio de pancadaria e lutas grandiosas com vilões megapoderosos à la X-Men ou Homem-Aranha pode se decepcionar um pouco. Superman - O Retorno é mais adulto e menos raso. As cenas de salvação enchem os olhos e são sim uma verdadeira montanha-russa, mas restringem-se ao salvamento de pessoas. Os grandes duelos estão em um outro patamar. Temos o duelo que o herói trava consigo mesmo tendo de assumir as perdas por sua ausência tão longa. Temos também a luta entre a inteligência de Lex Luthor contra os músculos do Super-Homem. A batalha mora no drama pessoal de cada personagem.

A escolha do elenco é uma vitória à parte. Brandon Routh (o novo Super-Homem) tem um talento enorme (e não confunda com aquele que, segundo o boato na web, precisaram diminuir digitalmente sob a roupa colada). Kate Bosworth, ao contrário de tantas críticas negativas, até que segura bem a onda. Já Kevin Spacey como Lex Luthor, pra variar, dispensa qualquer elogio.

Pra quem ainda está relutante em ver o filme, convenhamos, fazer um filme que fala de um alienígena superpoderoso que veste um colant azul e cueca vermelha por cima da calça em pleno século XXI e ainda assim é dramático, real e emocionante não é tarefa pra qualquer um. E Bryan Singer conseguiu brilhantemente.
Valeu, Bryan!

12 julho 2006

[DVD] Sai Neo. Entra Amanda.

Você sabia que se conectarmos nosso cérebro a um computador e um scanner e olharmos para um objeto e depois fecharmos os olhos e só imaginarmos o mesmo objeto, o scanner vai mostrar que as áreas ativadas do cérebro são exatamente as mesmas? O cérebro não sabe a diferença entre o que vê e o que se lembra. E aí vem a pergunta: então o que é realidade?

É com questões assim que você vai se deparar ao assistir ao documentário Quem Somos Nós? (What the BLEEP Do We Know!?). O filme reúne 14 pensadores, entre cientistas, químicos, teólogos e físicos e navega entre várias linhas de pensamento, todas com o mesmo ponto de partida: a física quântica.

Se "física quântica" já deu aquele arrepio na espinha, calma. Quem Somos Nós? consegue deixar esse tema bem fácil de engolir abusando na computação gráfica e mostrando exemplos do cotidiano da decifiente auditiva Amanda (Marlee Matlin, da série The West Wing).

O problema aqui é o exagero desse recurso. O filme podia ter metade das vinhetas e animações cortadas. As entrevistas com os especialistas com um mínimo de ajuda visual conseguiriam dar conta do recado. Sem contar que a encenação da historinha de Amanda lembra aqueles filmes-eróticos-peito-pentelho das madrugadas da Band.

E a falta de um contraponto às opiniões dos cientistas faz com que o filme, em certos momentos, se pareça com um video de auto-ajuda. Mas apesar tudo isso, Quem Somos Nós? ainda consegue dar um grande passo ao levar os complexos conceitos da física quântica ao espectador comum.

Ah, e se você procurar bem, já pode encontrar uma versão extendida chamada What the BLEEP?! - Down the Rabbit Hole que vai mais fundo nos conceitos e corta radicalmente a balela visual, deixando só o necessário pra que o blábláblá científico desça redondo. Vale a pena. Agora, se você só conseguir encontrar a versão standard, não deixe de passar pelos Extras. Lá tem as entrevistas com todos os especialistas, longe da Amanda. Beeeem interessante.

11 julho 2006

[CINE] ))< >(( Forever

A artista plástica Miranda July é reconhecida por suas instalações e suas performances pelos museus de arte moderna nos EUA. E agora ela chega arrebentando com força a linha que separa o cinema independente e a video-arte com o seu primeiro trabalho como roteirista, diretora e protagonista de um longa: Eu, você e todos nós (Me and You and Everyone We Know).

Qualquer coisa que for dita sobre a história vai com certeza estragar uma ótima experiência na sala de cinema. É como se finalmente tudo o que você já viu e ouviu sobre arte moderna começasse a fazer sentido de um jeito quase didático. July joga as idéias na tela e cabe a você tirar suas próprias conclusões sobre o que viu. Eu, você e todos nós é sensível, poético, mexe com as suas percepções e, ao contrário do que você já pode estar pensando, não é nada chato. É o tipo de filme que, uma vez mergulhado em seu universo, você deseja que ele não acabe tão cedo.

A trama, aparentemente banal, segue a história de Chistine (a própria Miranda July), uma artista plástica que divide o tempo entre sua arte e seu trabalho como taxista de velhinhos. Ela conhece Richard (John Hawkes), um homem em processo de divórcio que divide com a ex-mulher a custódia de seus filhos, o adolescente Peter (Miles Thompson) e o garoto de seis anos Robby (Brandon Ratcliff, a melhor descoberta do ano). Temos também nesse emaranhado vários outros personagens que se cruzam. Até aí nada de mais, não fosse pelo fato de que July vira tudo de ponta-cabeça infantilizando os personagens adultos e fazendo com que as crianças se portem como adultos. Funciona e é real! Mas a beleza e a poesia do filme não se limita a isso. Bom, já falei demais.

Taí uma experiência que vale o ingresso. Se contar mais estraga, então veja e depois a gente conversa ;)

07 julho 2006

[DVD] Olha... A trilha é boa.

Mais um daqueles filmes que vejo na locadora toda vez que passo por lá e nunca tenho coragem de pegar. Mas chega uma hora em que as opções vão ficando cada vez mais escassas, e o filtro cada vez mais raso.

Eis que depois de uma hora e meia tentando achar algo com mais de 3 neurônios e que não fosse um corta-pulsos, desisto e pego Cão de Briga (Unleashed), escrito e produzido por Luc Besson e diridigo por Louis Leterrier, de Carga Explosiva 2. Entendeu porque sempre passava batido por esse filme?

Mas confesso que ao ler a resenha atrás da caixa (coisa que não recomendo a ninguém que goste de garimpar tesouros escondidos em locadoras), a trama me interessou.

Um homem (Jet Li dando uma de ator sério e até enganando em algumas cenas) é condicionado a viver como um cão. Sempre que seu "dono" tira a coleira de seu pescoço, ele se transforma em uma máquina de matar. Mas acontece que ele é encontrado por um cego (Morgan Freeman fazendo papel de Morgan Freeman de óculos escuros) e sua filha branquela (não me pergunte como). Assim, Jet aprende a ser uma pessoa mais legal, aprende a falar, aprende que tocar piano é mais bacana que matar a sangue frio (!!!), pára de fazer cara de coitado e se lembra de um momento importante de seu passado. Ou seja, uma grande bobagem recheada.

O que realmente vale aqui (além das lutas realmente bem coreografadas) é a trilha sonora inteiramente criada pelo trio eletrônico Massive Attack. Em alguns momentos ela faz você até acreditar que o filme não é essa porcaria toda. Taí um bom CD pra se ouvir. Ao contrário do filme, essa trilha sonora eu recomendo.

03 julho 2006

[CINE] Unidos pela decepção

E pra esquecer um pouco o vexame Brasil x França, uma comédia-romântica-água-com-açucar cai bem, certo? Bom, se o filme for Separados Pelo Casamento, ERRADO.

Primeiro porque o filme não gera nenhuma gargalhada, então não é comédia. Segundo, porque várias brigas sem reconciliação não é nada romântico. E terceiro porque o roteiro de Jeremy Garelick e Jay Lavender lembra mais a escalação do Parreira que deixou o Brasil fora da Copa do que um filme engraçadinho dirigido por Peyton Reed (de Abaixo o Amor).

Os primeiros 15 minutos começam bem. Jennifer Aniston e Vince Vaughn jogam com vontade. Até os quilos a mais do gordinho Vince não parecem um problema pra que ele marque alguns pontos de atuação. Mas de repente o pique cai e você se vê assistindo a um primeiro tempo apático, sem graça, amarrado, repetitivo e sem brilho.

O time é de estrelas, mas nem a bombante ex-Rachel-Green-ex-senhora-Brad-Pitt jogando pelada (e depilada) no meio de campo salva o filme. O diretor e os roteiristas deviam estar agachados arrumando a meia na hora dessa cena. Deprimente. Só vale pelas caras de Vince.

Mas lá no finalzinho do segundo tempo o filme resolve engrenar, deixando os clichês no banco de reservas e trazendo alguns elementos mais novos à trama. Mas já é tarde demais. As várias chances de se marcar um gol passaram completamente batidas por mais de uma hora de exibição e não é um final que foge da formulinha hollywoodiana que faz com que Separados Pelo Casamento entre pro hall dos que merecem ganhar.

Que fique a lição. Pra esquecer uma derrota na Copa, nada de americano-água-com-açúcar. Melhor mesmo assistir a um brasileirão.